Desconfiômetro

Começo esta crônica pedindo perdão. Perdão Machado de Assis, que Deus o tenha, mas não concordo com sua filosofia “creia em si, mas não duvide sempre dos outros”. Nesse ponto sou muito mais socrática e acho que devemos sim duvidar dos outros.

Conquistar a independência depende do autoconhecimento e do desprendimento de tudo o que temos, que nos impedem de sair por aí sozinhos e com as próprias pernas. Isso inclui as pessoas. Não devemos acreditar em tudo que vemos ou ouvimos, muito menos nas pessoas ao nosso redor.

Como saberemos quem somos pelos outros? Afinal, quem melhor que nós mesmos para dizer-nos quem somos e o que fazer?

Para ter idéia do grau de desconfiança, nem em nossos pais devemos acreditar. Quem nos disse que Papai Noel existe? Quem nos ensinou que os bebês chegam em cegonhas? Quem falou que beijar na boca dá sapinho? E que trovão era Deus espirrando, que a nuvem era feita de açúcar, que cachorro se chama “au-au”, que morremos e vamos para o céu, que doce dá cárie no dente, que estudar era bom e preciso? Bom, talvez a última coisa seja verdade. E a penúltima também.

Mas o que importa é que quanto mais crescemos, mais descobrimos que tudo era e é mentira. Até entendo que uma criança não pode entender o mundo direto, do jeito que é (mesmo porque se fosse assim, não seriam crianças). Mas depois de descobrir a verdade, ainda é preciso contestar e desacreditar. Principalmente quando se trata de pessoas.

Agora, contrariando Sócrates e Platão, temos certeza de algo sim. Eu, pelo menos, sei que disso eu sei. Sei que existo, sei que sou o que penso, o que falo, o que faço. E sei que essa é a única verdade e certeza absoluta nesse mundo, logo, a única em que devemos acreditar.

Humanos. Ser mais fascinante na Terra não há. É o único que contesta, julga, conscientiza, moraliza as coisas. É o único que pára para pensar no que está fazendo e o por quê de estar fazendo.

Agora, para finalizar, se você leu tudo isso que acabo de escrever, por favor, honre minha pequena teoria e não acredite no que digo. Pense, reflita, tire suas conclusões. Se quiser. Mesmo porque você não pode acreditar mesmo. Pode concordar, se pensar da mesma forma, não mudar seu pensamento por causa de meia dúzia de parágrafos revoltados.

Por que digo isso? Só sei que tudo que sei é aquilo que sinto.