FICO ASSIM QUANDO NÃO BRILHO
FICO ASSIM QUANDO NÃO BRILHO
Marília L. Paixão
Às vezes leio coisas que me instigam, me inspiram e me deixam com vontade de escrever. Às vezes leio coisas que me deixam sem vontade de ler. Tipo coisas tiradas das coisas que já estamos cansados de ver. Afinal, o desamor é... Não, pensando bem, o desamor é... Quem sabe desamar não seja ter vontade de ver um outro ser morto, ou desaparecido. Pelo menos da rua da gente! Fim do problema! Será que desamar é mesmo isso? Não, desamar é... coisas mais graves ou menos graves? São essas coisas que fico com preguiça de ler. Genuínas demais para quem já viveu muitos anos.
Fico também com preguiça de ler aquelas redações de introdução, desenvolvimento e conclusão. Daquelas que não se pode fugir do tema e você se sente corrigindo redações de vestibular, coisa que eu nunca fiz. Claro que vestibular eu fiz... rs.rs...Corrigir redações é que eu nunca fiz. Para falar a verdade eu deveria mesmo era falar das coisas que eu nunca fiz. Melhor que reclamar das coisas dos outros. Há dias em que meu olhar é mais crítico que construtivo e nestes dias eu prefiro ler pouco. Acho que Deus sabe para quais cobras ele deve dar asas. Portanto se eu fosse cobra, asas ele não me daria.
Pois sinceramente se eu fosse crítica de alguma coisa eu não perdoaria muita gente.
Por que será que na maioria dos dias pensamos que somos grandes coisas? Deve ser isso! Deve ser essa mania que a gente tem de gostar demais da gente mesmo que nos faz achar pouco no trabalho do outro. Coitado do outro. Estou me referindo ao outro que tem lá seus talentos, mas que não nos agrada. Estou falando no outro que começamos a ler e abandonamos a leitura. Tem ou não tem uma série de coisas que a gente quer até ler, mas acabamos cansando e abandonando? Acho que nem vou postar este texto para evitar ser cremada. A incineração do meu corpo não livrará minhas pobres belas palavras da morte. Claro, isso é quando consigo escrever algo belo. Mas meu corpo incinerado talvez leve minhas palavras cinzas para o túmulo antes mesmo de adquirir um gol 2008. Tem algo pior que isso?
Como hoje estou chata vou explicar que pior não seria a morte em si que também deve ser uma coisa muita passageira, coisa de passagem única, not round trip, mas sim ao fato de não chegar a desfrutar de um golzinho novo bem quando isso está perto de acontecer. Quantas pessoas terão abandonado a leitura deste texto até mesmo antes de terem chegado aqui? Mistério. Quando é que alguém vai mandar um e-mail para a gente dizendo que tentaram ler, mas que odiaram? Tomara que nunca, não é mesmo? Afinal não possuímos desejos de deixar encarnar todas as cobras do Instituto Butantã na gente e sair por aí com cara de serpente ao encontrar os desafetos do caminho.
Mas quer saber?! Vamos festejar, pois finalmente o pessoal parou de falar do carnaval e breve se cansarão dos cartões corporativos. Acho que o jornal nos enfeitiça. Talvez eu seja a única pessoa que escrevo muito quando leio pouco e que quando leio muito quase não escrevo. Minhas vistas cansam e em dias como hoje, o meu humor também. Este quer deitar e redimir. Devo ter feito alguma coisa errada hoje. Fico assim quando não brilho.
Fico meio ar, meia-noite, meio desligada. Fico meio poça parada. Fico querendo abraço que me erga do chão em que quase me piso. Fico querendo um novo caminho, uma nova calçada, um chão de poemas em que o mais lindo seja você por tudo que faço. Hoje eu fiz tudo para nada dar errado, mas hoje ainda bem que não me perdi quando o erro se deu. A noite ficou mais linda depois de descoberto. Um erro tão pequeno quase me fez perder o certo. Em cada medo perdido ou medo vencido, reflito: É... fico assim quando não brilho.
Mas se eu dormir, pode ser que eu volte a brilhar pela manhã.
Afinal, você conhece alguém que acerta o tempo todo? Se há este alguém, então vou pedir para Deus me acertar. – Por favor, Deus! Se não der para me acertar, pelo menos não permita que eu vá antes de chegar o Gol 2008. Sabe como é, pessoas como eu se contentam com qualquer coisa boa. É isso que eu procuro nos textos que eu leio e também nos que escrevo.