A vida nunca desiste de nós
Quantos de nós, já não nos flagramos a dizer-nos sem perspectivas ou esperanças? Dias existem, em que o olhar deixa-se ficar entre os porões da incredulidade e do desencanto. Em instantes assim, parece que nada pode nos redimir ou nos fazer alterar a obscuridade que se deita sobre qualquer arco-íris que pinte o universo.
Todos nós, de uma maneira ou de outra, conhecemos esta paisagem outonal que veste o nosso olhar em muitos momentos de nossas vidas. A vivência, porém nos ensina, que esta estação é também passageira, a menos que a nossa alma não esteja saudável ou que sejamos profundamente pessimistas, no que tange ao esculpir cotidiano dos nossos caminhos.
Muitos de nós enfrentamos situações limites, no que se refere a perdas afetivas. E aqui, reporto-me não apenas a morte, mas a todo e qualquer desenlace que nos ponha frente à frente com a perda, quando apenas parece nos restar o nosso próprio olhar a nos mirar. É comum num primeiro instante sentirmos o peito devastado pela inconformidade e impotência, assim como nos sentirmos acompanhados por uma sensação de fracasso pessoal. Para fazermos a travessia que nos leva de volta à vida, sempre existem muitos caminhos que se abrem à nossa visão. O que acontece, na maior parte do tempo, é que insistimos em manter o nosso olhar preso ao retrovisor da vida, como se pudéssemos conter a areia que não cessa de derramar-se na ampulheta do tempo.
Não há qualquer dúvida que sempre será mais fácil queixarmo-nos da falta de sorte ou que imputemos ao destino a nossa condição de infelicidade ou de dor. É mais cômodo também que nos sentemos na janela da vida, debulhando nossas queixas e desconfortos, que mudarmos a direção do nosso olhar. Talvez, colocando-o na varanda das oportunidades e das novas escolhas que nos convidam todos os dias ao aperfeiçoamento e evolução.
A vida é sempre o infinito com os olhos voltados para nós. Pena que alguns de nós que dispomos do muito que a tantos foi negado, façamos dos nossos problemas, pequenos quartos escuros, sem portas e janelas, onde deixamos a vida nos asfixiar em lamentos.
Mesmo quando ignoramos o nascer dos dias, o alvorecer não desiste de nós. Na melodia do universo, ainda que não nos demos conta, somos parte da orquestra que entoa a vida.
Fernanda Guimarães
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