CIRANDA NA PRAÇA

Eles eram centenas e nós, cinco.O ônibus chegou à cidadezinha. Parou no centro, em frente à igreja, já estavam nos aguardando. Olhares aflitos, janelas atentas, frestas ansiosas.

Eles eram centenas e nós, cinco. No ônibus cheio de caixas, nós aguardávamos a presença do anjo da guarda do lugar. Precisávamos de instruções para alcançar os objetivos que nos levaram ali.

Eles eram centenas e nós, cinco. Ela chegou. Nos seus lábios, um sorriso acolhedor, encantador. Subiu para o ônibus. Seu olhar de anjo nos mostrava que sim, éramos muito bem-vindos ao lugar! Que deveríamos começar logo com o que tínhamos ido fazer ali, pois eles já estavam aguardando há muito, desde que souberam da nossa ida para lá.

Mas eles eram centenas e nós, cinco. Não tem problema, disse ela, vamos nos organizar para que tudo dê certo. Eles chegavam, mais e mais, cercavam o ônibus. Nós ficamos ainda apreensivos. As mãos começaram a se erguer, os olhos pediam, as bocas suplicavam. Cada um de nós olhava. Estávamos paralisados, mas tínhamos uma missão a cumprir, não podíamos temer nada.

Se eles eram centenas e nós, cinco, teríamos que começar logo, sem demora. Das caixas, saíam histórias já pertencidas a outros, passos já dados por outros, escudos contra as intempéries, sorrisos já distribuídos, esperanças coloridas. As mãos pediam, os olhos se erguiam, as bocas suplicavam. Cada um queria para si um pedaço daquele afago; para si, para um próximo, para outro que não pôde estar presente.

Eles eram centenas e nós, cinco. Os menores eram maioria neles, e as carícias que almejavam estavam ali, no nosso abrigo, ao seu alcance. Podíamos mais, podíamos tudo, apesar de eles serem centenas e nós, cinco. Num momento, parecia que estávamos encurralados, perdidos, sem saída mesmo. O anjo da guarda ia carregando caixas para aqueles que não puderam estar presentes no momento. Havia muitos naquela situação, precisavam do pão do homem. De repente surgiu a idéia. Não se sabe como, mas ela veio como num passe de mágica! Uma volta à calma.Uma das nossas correu até o centro da praça, chamou uma das crianças, deram-se as mãos e começaram.

Eles eram centenas e nós, cinco, e, no centro da praça, depois dos afagos já distribuídos, começou o mais lindo de todos os gestos acontecidos naquele dia. Uma mão se uniu à outra e mais outra, e mais outra, e mais outra... Até que, no meio da praça, inícios de vida formavam um só corpo, uma só vontade, uma só gratidão. A nossa, que estava coroada de seres dos mais leves (sim, porque a felicidade nos torna leves) levantava os braços, sorrindo, quase que chorando, de uma alegria inexplicável, de uma alegria partilhada por nós cinco, girava e girava e girava, cantando a ciranda, ciranda do olhar o outro, reparar o outro, dar a mão ao outro. Ciranda solidária do Calor Humano!