O TOTONHO DO REQUIÃO
Eu não sei o nome dele e aposto que poucos o sabem. Eu o conheço por Ganso, e acho que, com exceção dos parentes e amigos mais íntimos, a maioria das pessoas só o conhece por este apelido. Talvez porque o som de sua voz é parecido com o grasnar do pássaro, talvez devido aquele cacoete de jogar repentinamente a cabeça para baixo.
Pois é, o Ganso tinha o costume de não perder comício. Não sei como ele ficava sabendo da agenda dos partidos e coligações, mas quando pintava algum lá estava ele grasnando e batendo a cabeça. Em certas ocasiões chegava a acompanhar pela região o candidato na “caravana da vitória”. Havia sempre um cabo eleitoral, que lhe dava carona. E pegar carona em época de cabala de votos é moleza.
E foi num final de semana de 1990 que o Ganso se incorporou à caravana de Roberto Requião. Não conseguiu ir além de São Miguel do Iguaçu. Mas, adiante pra quê? O comício estava bom. Uma multidão cercava o palanque instalado na praça. No tablado candidatos a deputado e a senador atropelavam caixas de som, holofotes e um emaranhado de cabos, enquanto se revezavam ao microfone. Requião, que se manteve de cara fechada durante a fala de seus companheiros, só voltou a mostrar interesse quando o mestre-de-cerimônias da campanha anunciou sua vez de falar. Era o primeiro turno daquela eleição para governador e naqueles dias no palanque e na tevê Requião massacrava José Richa. Por fora corria solto José Carlos Martinez, que no segundo turno deu um baita susto no candidato do PMDB e quase leva a governança do Estado. Mas isso é outra história. Naquela noite, Requião estava inspirado e sua metralhadora giratória não perdoava os adversários. Embaixo, no gargarejo, o Ganso se esforçava para dobrar a cabeça para trás para assistir o show proporcionado pelo candidato a governador.No final de ser discurso, Requião arrancou longos aplausos ao contar que a caminho de São Miguel, havia parado em Santa Terezinha de Itaipu para visitar o Totonho da Madalena, que picava fumo na varanda de sua casa. Em silêncio, a multidão ouvia o caso contado com seriedade e voz grave.”Então eu perguntei ao Totonho. Pra que este fumo companheiro? Ai ele respondeu que era o fumo que o povo ia dar pro Richa e o Martinez no dia das eleições”.
Enquanto a assistência ia ao delírio, o Ganso, de cabeça baixa , pensou lá com seus botões: “Ué! Mas o tal do Totonho não é de Três Lagoas?” Requião havia contado aquela mesma história horas antes num comício realizado no Profilurb, dizendo que a caminho do Porto Meira, parou na casa de seu amigo o “Totonho da Madalena, antigo morador de Três Lagoas”.