E NÓS MULHERES, O QUE TEMOS?
E NÓS MULHERES, O QUE TEMOS?
Marília L. Paixão
Ando tentando ver o que não vi quando andava perto dos dias em que me perdi. Ando tentando errar o caminho da cobra enquanto não há doutor por perto. Ando pensando no que é certo. Tudo que dizem ser errado aumenta de tamanho até brincando. Tudo que é certo parece um pouco deserto. Não há meio termo memorável. Vivemos expostos a tudo quando se está absolutamente inseguro. Cair deve ser o mesmo que experimentar a sorte de um trevo de quatro folhas.
Onde o homem espera ir enquanto se agiganta nele vontades infinitas de ocupar vários espaços? Posso estar ainda com alguns pensamentos meninos e vários pensamentos mulheres. Quem experimentou da maternidade pelo lado de dentro, pelo lado de fora já pode também ter experimentado muito. Por outro lado também não construiu um avião, um prédio ou um novo mundo.
Há coisas que só essas mulheres saberiam dizer. Quem será que mora dentro delas mais que um filho? Ou o que será? Talvez nada. Talvez só a solidão ou o abandono. Mas essas mulheres possuem fibras e graças que aumentam na medida em que superam seus sonhos e se encantam com outros. Uma planta de um pezinho passa a ser mais que uma árvore de natal repleta de presentes. Um seio cheio de leite passa a ser sua maior jóia. Um choro passa a ser a música mais ouvida para indicar hora das refeições ou o que será se o docinho ainda está cheio?
Ainda assim a maternidade não é a maior arma das mulheres. Quando digo “arma” do jeito que disse aí, cabe ao leitor fazer todas as leituras do que possa significar. Eu não estou aqui para esclarecer nada. Eu não estou aqui para confundir tudo. Eu estou aqui por estar. Estou procurando meu lugar neste espaço vago, nesta folha em branco, nesta época de endereços eletrônicos. Eu me conecto e você me desconecta e tudo isso não depende de você me ler ou não. Quem leu é que teve a sorte, quem não leu a terá um dia. Há tempo para tudo neste varal incessante de letras. Talvez estejam pairadas nele todas as gotas da última chuva. Quem não se aproximou nunca irá saber.
Tenho que me despir nestes últimos dias de verão chuvoso. Não importa se faz frio. No próximo ano levarei essas letras para Porto Seguro. Mas as deixarei amarradas que seguro mesmo é o céu da minha boca enquanto apenas pensativa. O bom da gente pensar muito é ter sempre um pensamento novo, do tipo que ninguém pensou ainda. Neste caso, depois de deixar por escrito, melhor amarrar bem amarradinho. Tem coisas que se a gente solta, quem não tem hábito de raciocínio acha que é loucura. Outros acham que é piada. Estes se contentam com um leve riso para não demonstrarem que não entenderam e não ficarem sem graça.
Acho que a internet favoreceu a era das mulheres. Acho que as mulheres estão se sobressaindo. Todas as mulheres estão se aproveitando disso aqui. As mulheres que limpam o chão, as mulheres que chefiam escritórios, as mulheres que fazem pastéis, que amamentam, que lecionam, que se prostituem, que escrevem livros, que fazem projetos nunca feitos pelo homem, que se candidatam a alguma coisa (mesmo se for para derrubar um outro adversário). Até mesmo as mulheres bandidas, cretinas, as ditas mais otárias. Estamos todas por aqui. Claro que não estamos por aqui para falar mal dos homens. Não! Isso é que seria ceder nossa inteligência de forma rasa. Felizes são eles, os que podem nos ter.
E nós, mulheres, o que temos? Será que temos só carretéis de linhas? Será que temos só fogo de palha? Será que temos só um pênis sob o controle ou dois, três ou nada mais? Fala se isso não parece pouco?! È pouco. Não em quantidade ou qualidade. Talvez em satisfação. Talvez a realização maior também não seja o doce sorriso do baby nos braços, mesmo uma grande maioria das mulheres dizendo que a maior felicidade delas vem dos filhos. Neste caso fica fácil entender que quando um filho morre uma mãe morre junto. Esta deve ser a maior dor do mundo e não a do parto. Afinal, qual é a maior partida?
Olhando por este ângulo, parece que a maior função da mulher na Terra seja mesmo a da procriação. Procriou, cumpriu sua missão, morreu, acabou. Só o homem continua. A mulher ficará em algumas falas:
- Era uma santa mãe, santa esposa, santa dona de casa.
Às vezes cozinhava melhor que a própria mãe! E sem falar no que talvez não poderão se vangloriar os homens do futuro: “E ponho a mão no fogo que de tão santa, nunca me traiu.”