O Meu Diploma
Já escrevi antes, sobre o meu tempo na escola, mas não posso esquecer do tão sonhado dia da entrega do diploma.
Dezembro de 1945. Dos 120 alunos dos dois quartos anos, somente o Nelsão não havia tirado nota suficiente para receber o diploma, o que não era novidade, pois ele estava no quarto ano, há 3 anos, e era o menino mais velho da escola. Às vezes eu fico pensando, será que ele não era mais inteligente do que todos nós ? Enquanto ele estava freqüentando a escola, tinha grande parte do dia para jogar bolinha de vidro, futebol, nadar, jogar bafinho, caçar passarinhos, rodar arco, jogar ferrinho e jogos de botões, ao passo que aqueles que se formavam iam direto para o trabalho, ou aprender algum ofício, e ai acabava a liberdade.
O dia do tão almejado certificado amanheceu muito bonito, e a festa foi na casa paroquial da Igreja de São José, que tinha um salão para solenidades. Nós, os alunos, ficamos sentados nas cadeiras do auditório. As professoras, todas sentadas do lado direito do palco. No centro, uma comprida mesa, onde a cadeira central era ocupada pelo diretor da escola, o Sr Baena, homem de poucas palavras, sempre sério e de mau humor, a quem nós chamávamos de “Seo Baiana”, escondido, é claro. A seu lado, o padre Guilherme, a bondade em pessoa, de uma memória fabulosa, sabia o nome de todos os alunos corretamente. E ele, em breves palavras, disse: ..”Esta ser uma grande dia para todas as suas papais e todos os seus mamães, pois estão vendo as suas filhos vencerem um etapa do vida..”.
Ao lado do padre Guilherme, o Sr. Guido Segalho, autoridade policial da Vila Industrial. Depois, vinha o Sr. Guido Bonturi, que era o juiz de paz do bairro, e na última cadeira, o Sr. José Fascione, com sua farda de gala, visto ser sargento do posto policial da Rua Sales Oliveira. Do lado esquerdo do diretor, ficava Dona Hilária, diretora da escola, muito enérgica mas de um coração mole, emocionava-se com facilidade, e daí às lágrimas era muito rápido. Era muito bondosa. Depois, as professoras dos quartos anos dos meninos e das meninas: Dona Irma, Dona Zenaide, dona Ester e Dona Júlia. Nós, os alunos e alunas, éramos chamados pelos nomes. Subíamos no placo e recebíamos o diploma do Sr. Diretor e cumprimentávamos a todos, à partir da direita.
Fui o último aluno a ser chamado. Eu, com o meu terno de brim de calça curta, que foi o primeiro da minha vida. Com sapatos, também novos, e meias compridas até o joelho. Eu, intimamente, me acha vestido como um príncipe, pois sabia dos esforços que meus pais tinham feito para que eu estivesse ali, bem vestido.
Antes de subir ao palco, pegávamos com uma senhora, uma flor para dar à professora da nossa simpatia, pois todas estavam ali reunidas. Eu, então, pedi à mulher das flores que me desse um cravo e uma rosa. Ela estranhou mas acabou me dando. Recebi o meu diploma, cumprimentei a todos, e disse que gostaria de falar alguma coisa, o que me foi autorizado.
Sem saber onde eu fui buscar tanto equilíbrio emocional eu então disse que agradecia a todos e a todas as minhas professoras, indistintamente, que contribuíram para a minha formação, e como eu não tinha um grande maço de flores para homenagear a todas as minhas mestras, eu gostaria de entregar uma rosa à Dona Irma e um cravo à Dona Celestina, minha professora do segundo ano.
Quando terminei de falar as duas estavam me abraçando, ambas com lágrimas nos olhos. Então Dona Celestina pediu a palavra e disse que a maior recompensa que elas tinham, era ver um aluno reconhecer toda a dedicação e todo o carinho que lhe foi dispensado.
E assim, deixei ou virei uma página da minha vida. Com ela foi o meu tempo de escola, como dizem, uma etapa risonha e franca, no meu querido 5o Grupo Escolar da Rua 24 de Maio.