Grilhões!
Algo que me preocupa é que, depois da pandemia, as locações nas quitinetes caíram muito. Antes, era comum as quitinetes serem locadas em todos os feriados do ano. Nos feriados deste mês, nem se fala: Finados e o dia 15 sempre faziam as quitinetes lotarem; no entanto, estamos em novembro e, em momento algum, elas foram alugadas.
Ultimamente, tenho sido muito provado na área financeira. Sei que, em algum momento, essa fase passará. Quando isso acontecer, serei aprovado diante do Pai. Tenho um pensamento onde faço a seguinte afirmação: “Sou livre dos meus pensamentos e agrilhoado por minhas palavras”. São fatos bastante pessoais; todavia, me exponho diante de vocês.
Tive o prazer de várias pessoas me anunciarem o evangelho; no entanto, somente por meio de um sonho, em 1989, Deus me despertou para segui-lo. No sonho, eu estava em um local totalmente plano. Como morava em um lugar cheio de morros, estranhei estar naquele lugar. Como se essa preocupação fosse pouca, observei que um grupo de pessoas marchava em uma determinada direção. Para aguçar ainda mais a minha curiosidade, percebi que aquelas pessoas eram da época em que Jesus caminhou na Terra. Ao findar aquele grupo, outro surgiu caminhando na mesma direção. A diferença, agora, era que as pessoas eram da Idade Média, época em que as batalhas eram vencidas nos mares. Da mesma forma que o grupo anterior, aquele passou e um novo grupo surgiu. Percebi que as pessoas que agora marchavam eram da nossa época, pois, entre elas, estava um colega do trabalho. À medida que o sonho se desenrolava, mais curioso eu ficava. Por que eu via pessoas de gerações diferentes marchando para um determinado lugar? Isso me deixava ansioso. Até que, num dado momento, o céu se abriu como uma cortina, e no meio apareceu um homem com vestes brancas resplandecentes e, ao seu redor, uma miríade de anjos. Percebi que aquele homem que descia entre as nuvens era Jesus. Entretanto, o seu olhar me incomodava, pois não era como o de um bom pastor que dá a sua vida em favor das suas ovelhas; seu olhar era autoritário, como o de um juiz. A partir de então, eu o interrogava: “Senhor, está voltando, e como está a minha vida? Estou salvo?” Eu perguntava, perguntava e nada de respostas. O fato Dele não me responder gerou uma grande angústia no meu ser. A agonia era tão imensa que acordei.
Foi então que abri a minha janela e percebi que os morros ainda estavam lá. A partir daquele momento, percebi que ainda era tempo de buscar ao Senhor e comecei a congregar numa igreja evangélica do bairro. Além de congregar, passei a ler a Bíblia, orar, evangelizar e discipular. Foi assim o meu despertamento espiritual.
Discipulei um bom grupo de pessoas. Nesse discipulado, orientava as pessoas sobre a prática da oração e a leitura da Palavra. Tudo o que eu recebia, eu passava para eles. Inclusive, orientava as pessoas sobre a prática do dízimo. Quero ressaltar para os meus caríssimos leitores que pastoreei uma igreja em São José–SC voluntariamente por oito anos. Nunca ganhei um tostão para pastorear; porém, sempre instruí as pessoas sobre o dízimo. Que elas deveriam dizimar porque tudo o que temos é nosso Deus que nos proporciona. Tudo o que temos obtivemos por meio Dele: nossa saúde, o ar que respiramos, nossa visão, audição, paladar, olfato, locomoção, tudo é Ele quem nos proporciona. Além disso, era um ato de fé, e a manutenção de uma igreja gera gastos. Eu observava que as pessoas concordavam que tudo era de Deus, com exceção do bolso. Diante desse obstáculo, ensinava que deveriam dizimar, mas esse ato devia ser precedido de voluntariedade. Caso contrário, não deveriam fazer isso com o coração fechado, pois, ao invés de ser uma bênção, tornar-se-ia uma maldição. Eu também ensinava que o dízimo era proporcional, independentemente de ser mil ou dez mil. Tudo o que fazemos para Deus deve ser voluntário, caso contrário, será um fardo em nossas vidas. Se for para fazer algo com dó, é preferível não fazer.
Sei que nem todos aceitarão esse ensino; no entanto, é imensamente gratificante ver que a Palavra está frutificando.
Certo dia, uma irmã me surpreendeu agradavelmente. Nessa época, eu estudava no seminário em Arujá–SP, estava de férias. O nome dela era Vera, devia ter em torno de 65 anos—que ela esteja em um bom lugar no céu. A aposentadoria dela era de apenas um salário mínimo. Logo ao adentrar sua casa, ela veio chorando com uma Bíblia na mão e, dentro dela, estava a décima parte do salário mínimo. Enquanto eu olhava para o dinheiro e a Bíblia, ela ainda em prantos falava que começou a dizimar e que em momento algum aquele dinheiro fez falta para ela. E o dízimo daquele mês estava ali separado. Naquele momento, eu a abracei e juntos oramos para que o Senhor a abençoasse ainda mais. Esse pequeno gesto eternizou-se em minha mente.
Muitas pessoas dizem: para que dizimar se vai enriquecer os pastores? A igreja a qual congrego ainda não é uma pessoa jurídica. Fui até o tesoureiro e pedi o pix da igreja. Ele passou o seu pix e explicou que aquela conta era da igreja. Preocupado pelo fato do pix ser o seu, ele me explicou que a igreja ainda não tinha CNPJ. Eu disse a ele: você é o tesoureiro da igreja, por esse motivo eu te procurei, a mim cabe apenas dizimar. Se você usará o dinheiro da forma correta, isso é problema seu com Deus, não compete a mim julgá-lo. Desculpa, meus queridos leitores, mas era necessário esse contexto para entender tudo com maior clareza.
Voltando à amada irmã Vera. Diante de toda essa recessão, um dia comecei a dialogar com o Pai: falei a Ele que, devido ao meu arrocho financeiro, não sabia se conseguiria manter os dízimos em dia. Foi só eu terminar de falar, e uma voz suave e delicada veio até meu ouvido e disse: "Você sempre ensinou que dizimar é um ato de fé e que é proporcional, independentemente do salário que você ganha. Afinal de contas, você mudou de opinião?" Naquele momento, automaticamente lembrei da irmã Vera. Diante dessa simples pergunta que soou educadamente em meu ouvido, prostrei-me e pedi a Deus perdão. No meio desta recessão, algo de bom aconteceu. O Senhor Adair e família, amigos de longa data, estão aqui em casa. Antes, nessa época, jamais poderia recebê-los; contudo, no presente, eles estão bem acomodados nas quitinetes. Se me entristeço por um lado, por outro, me alegro.