Solidão

Era 2008, um sábado de outubro em Jundiaí, interior de São Paulo. Eu tinha só 16 anos. Um mês depois da primavera. Era meia-noite, ou um pouco mais do que isso, talvez o radiorrelógio estivesse atrasado em alguns minutinhos. O tempo era bem ameno, um dia tão comum, tava garoando bem fininho.

Tinha sido um sábado bastante agradável. Passei na casa da minha tia Leda, a fim de comemorar o aniversário do meu primo, quase irmão, Tiago, que também entrava na casa dos 16 anos de idade. Brinquei com meus primos menores em jogos de tabuleiro, futebol e bati um bom papo com os mais velhos. Teve churrasco, pudim de sobremesa, crianças roubando os docinhos da mesa antes do parabéns. Foi um ótimo dia. Mas voltei pra casa por volta de 18h. Eu ficaria só, pois meus pais haviam saído para jantar na casa de uns amigos numa cidade vizinha. Só voltariam na madrugada para o domingo.

Cansado do dia de festa, resolvi tomar um banho e tirar um cochilo. Após tomar um banho quente e colocar um pijama, fui pro meu quarto, liguei a TV e dormi em uns 10, 15 minutos. O sono foi além de um cochilo. Dormi pesado e fui acordar pela meia-noite e meia, quase 1h da manhã. Minha televisão estava sintonizada no canal Globo. Estava passando o Supercine, uma sessão de filmes semanal da emissora. E tocava aquela vinheta nostálgica do programa que passava aos sábados. O filme era “Cuidado… Ela é Uma Francesa”, lembro que parecia ser uma comédia.

- Meu Deus, eu dormi tanto assim? - resmunguei enquanto esfregava os olhos.

A luz pálida do televisor era a única iluminação em meu quarto. Eu estava só em casa, queria aproveitar. Dizem que existe uma diferença escandalosa entre solidão e solitude. Eu não sabia qual era até o momento em que eu abri a janela do quarto para avistar as ruas ao horizonte.

- Que maluco… - falei, enquanto via o cenário de uma típica madrugada de sábado para domingo.

Eu via muitas casas. Jundiaí não é uma cidade grande como Campinas, mas tinha seu charme. Essas casas que eu via, algumas estavam com luzes acesas, luzes que eram incandescentes e emitiam um brilho alaranjado, outras já eram um brilho mais esbranquiçado. O céu noturno dava um contraste absurdo à cena. Minha rua estava completamente deserta, só os carros estacionados, algumas motos também. E aquela vinheta ressoava em minha mente.

O mundo parecia solitário, ou ao menos aquele pedaço dele que é o meu bairro de infância. Mas eu gostava da sensação. Era a minha solitude contemplando aquela madrugada e nela eu me perguntava se outra pessoa estava na janela de seu quarto olhando o mundo.

- A vida é isso… - falei, sorridente.

Eu não diria de um sentimento feliz naquela ocasião, mas certamente era muito oportuno. Na calada daquela noite um pedaço do mundo dormia, num fim de semana. E uma chuvinha com uma vinheta simbólica para serem as minhas trilhas sonoras.