O Monstro do Ralo da Pia
A última faxina ou qualquer outra limpeza que esse lar viu foi quinta-feira e já é sábado de manhã. Não passou tanto tempo que se impressione e a pia já transbordava, devido não só à quantidade de pratos, talheres, tampas, copos, mas pelo volume das panelas e todos os restolhos que delas escorriam. Por vezes a torneira era aberta puxando lá do fundo uma esperança de limpeza, mas era para no máximo lavar as mãos. Trazia o enxague sujo de resto de suco ou refrigerante empurrando mais restolhos por onde passava. Um nojo se formando na peneirinha do ralo.
Os residentes não ouviram, sequer viram ou sentiram o cheiro da massaroca fermentante borbulhando no acúmulo abissal de suas sujeiras alimentares quando, numa aleatoriedade do universo, juntaram-se molecular e monstruosamente as migalhas num Megazord bufante que com só passo saiu da pia, foi até os quartos e matou com covardia os residentes.
Após o instantâneo silêncio que se vive quando uma tarefa é concluída, o monstro Restolhão retornou para a pia limpando seu caminho. Lá a lavou todinha, esfregou o inox ao brilho e pulou para dentro do lixo.