Entre Sem Bater - Mariana: Nove Anos
Um Anonymous disse:
"... quem não esteve aqui não sabe o que estamos passando e como vamos viver daqui em diante, nem as pessoas daqui de Mariana ..."(1)
Este é o nome do perfil (Anonymous) que usarei na trilha "Entre sem bater" para atribuir a autoria de algumas frases-chave de cada texto. O principal motivo é não identificarmos a origem, autoria ou primeira referência de cada pensamento. É, também, uma forma de reconhecer o valor dessas citações, que não fazem parte da lista de hoaxes, fake news e mentiras. Estes nove anos da tragédia de Mariana produziu muitas vitimas anônimas com histórias e sofrimento para contar.
NOVE ANOS
Uma barragem da mineradora Samarco localizada no município de Mariana (MG), rompeu-se no dia 5 de novembro de 2015(*), deixando um rastro de 19 mortos. O maior desastre ambiental, não natural, do Brasil, quiçá do mundo, nos últimos tempos. Com toda a certeza, não foi somente pela força da natureza ou acidente natural evitável. Era a crônica de um sinistro que se anuncia a cada dia e a cada omissão, logo, não foi acidente, foi crime. Após 9 anos, podemos dimensionar o que aquela população sofreu, contudo um "Anonymous" resumiu tudo na frase-chave.
Este evento trágico evidencia um problema que não se limita ao acaso, mas que emerge de negligências e irresponsabilidades. Adicionalmente, os interesses corporativos que priorizam o lucro sobre a segurança ambiental e humana são o objetivo de muitos acionistas. Desde que essa perspectiva é predominante, muitos especialistas e a sociedade em geral indicam que o ocorrido foi um crime.
Enfim, são 9 anos com mais do que um decálogo de impunidade(2). Certamente para tristeza de muitos e omissão criminosa de outros tantos.
*** Foto no texto original - Bento Rodrigues - Mariana - Foto: Rodney Costa ***
OS SOBREVIVENTES
A frase de uma das vítimas do desastre ambiental em Mariana (MG), expressa de maneira contundente uma sensação de abandono e desalento. O rompimento da barragem, nove anos atrás, deixou um rastro de destruição sem precedentes, e ainda assombra as vítimas. O desastre não se limita apenas à dimensão ecológica; ele é um crime humanitário e social. Assim sendo, as consequências reverberam na vida de centenas de famílias que perderam seus filhos, seus trabalhos e a própria história.
Ao longo desses nove anos, a morosidade da Justiça é uma constante que agrava ainda mais o sofrimento das vítimas e da sociedade. É vergonhosa, a lentidão no andamento dos processos judiciais e as barreiras para responsabilizar as grandes corporações. As empresas globais contam com a notória falta de vontade política, que contribuem para a sensação de impunidade. Por isso, este sentimento é comum em todos aqueles que continuam a viver com as marcas do desastre. O peso da incerteza é devastador; para muitos, viver o presente já é um desafio, enquanto o futuro é uma incógnita sob abandono e descaso.
INJUSTIÇA
A lentidão na Justiça (nove anos sem condenações é muito tempo) se traduz em um cotidiano marcado por lutas e dor. Famílias sem seu teto, terras improdutivas, e a escassez de recursos básicos evidenciam o quão distantes estão os atos justos. A frase do sobrevivente ressoa como um grito que, além de pedir ajuda, relembra a urgência de uma resposta mais célere. Ela deixa claro que, enquanto as pessoas não enfrentarem a realidade de forma empática, jamais compreenderão o antes e o que está por vir.
A impunidade dos responsáveis é um fantasma que paira sobre a situação, alimentando a desconfiança e a desesperança nas comunidades. A impunidade não apenas desacredita o sistema jurídico e político. Sugere também que a vida humana e o meio ambiente possuem um valor secundário frente aos interesses econômicos e políticos.
Grandes corporações como a Vale e a BHP Billiton, responsáveis por desastres, continuam a operar afrontosamente. Por outro lado, as vítimas enfrentam processos longos e desgastantes para obter o mínimo de indenização. A percepção de que a Justiça brasileira e internacional não tem a rapidez necessária para garantir os direitos básicos das vítimas é clara. Desta forma, reforça-se um ciclo de descrença, criando uma barreira invisível, porém concreta, entre as comunidades e a justiça efetiva.
REVELAÇÔES
O que se revela, no entanto, é que o desastre ambiental em Mariana é também um desastre moral e institucional. Por isso, a vulnerabilidade do sistema jurídico brasileiro diante de interesses corporativos poderosos fica patente. O sofrimento dos sobreviventes não é apenas um dano passado, mas uma condição que se prolonga, aguardando respostas concretas e justas.
“Como vamos viver daqui em diante?” é uma pergunta que resume a angústia da maioria das vítimas. Como se não bastasse, perderem o passado, ainda não conseguiram reconstruir a vida, presos a um presente indefinido e a um futuro incerto.
Diante disso, cabe à sociedade e às autoridades abraçarem a causa dos resultados. É provável que nem acelerando os processos judiciais e exigindo políticas públicas transparentes o problema tenha solução. A sociedade deveria exigir mudança que possam ir além do aspecto jurídico. É necessário criar um futuro onde, finalmente, as vítimas possam recomeçar e viver em paz, livres do peso de um crime de nove anos.
"Amanhã tem mais ...
P. S.
(*) A data do rompimento da Barragem de Fundão é apenas o começo da história que chamam de acidente, foi o crime do século(2).
(1) "Entre Sem Bater - Anonymous - Mariana: Nove Anos" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/11/05/entre-sem-bater-anonymous-mariana-nove-anos/
(2) "Não Foi Acidente - Decálogo da Impunidade" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2023/11/05/nao-foi-acidente-decalogo-da-impunidade/
(3) "Não foi Acidente - O Crime do Século" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2016/02/26/nao-foi-acidente/