VINHO DE GARRAFÃO
Vinho lá em casa, no interior de Santa Catarina, só entrava o de garrafão, Sangue de Boi, rótulo vermelho vivo, que papai comprava no Armazém de Seu Nelson. O valor era anotado em caderneta e pago no final do mês, com outros itens, quando ele recebia o salário.
Quem conhece, sabe que não é nenhuma bebida fina, cara, premiada ou de qualidade. Bem popular e barata é o que é.
A bebida era servida no almoço, em copo americano, para os donos da casa e, para as crianças, mamãe diluía uma pequena porção em água, à qual adicionava um pouco de açúcar. Era o suco disponível e nos deliciávamos. Membros da classe média, mais baixa que alta, não tínhamos recursos e nem conhecimento para adquirirmos algo de mais qualidade.
Foi só muito mais tarde na vida que vim a provar um bom vinho e conhecer um pouco a respeito de diferentes uvas, castas, terroir, origens, processos de vinificação e melhores marcas. Passei, então, a reconhecer e apreciar um bom vinho e ter mais discernimento para escolher uma garrafa. Entretanto, não desdenho do velho e popular Sangue de Boi, que nem sei se ainda existe, mas que fez a alegria da família naqueles idos de 1960 e 70.
Hoje em dia, há experts em vinho, os chamados Sommeliers, que fazem desse conhecimento sua profissão e são contratados pelos restaurantes de classe para sugerir a bebida aos frequentadores, a dita “harmonização” com o prato a ser servido. É uma profissão que requer anos de estudo, estágios em vinícolas famosas, dá status e é bem remunerada, diga-se de passagem.