A mosca e o café mocha

Cedo, acordei e o ritual do meu café da manhã foi interrompido pela visita importuna de uma mosca que tentava pousar na deliciosa banda de pão aquecida no azeite de oliva.

Eu assistia à resenha da vitória do meu time de coração, era perto de seis horas da manhã de um sábado promissor. Sobre a boca gigante do fogão do meu conceito aberto de cozinha havia uma panela de mocotó à espera do sol mear o dia e bem vedada, impediu a invasão da mosca que solitária trazia em seu poder resíduos de lixo contaminados para distribuir na minha mais gostosa iguaria.

Ao me ver assentado na minha exclusiva cadeira do papai em frente à televisão, sobrevoou sobre minha cabeça e se preparava para aterrizar na pista escorregadia quando percebeu o vento das palmas de minhas mãos indo em sua direção e lepidamente, escapou de um esmagamento, pois vê o mundo em câmera lenta. Esse paradoxo é a principal razão de termos dificuldades em acertá-la.

Criei, então, uma estatratégia: tomei todo meu café mocha adoçado pelo mascavo e o deixei ao lado. A mosca não resistiu à armadilha e literalmente foi ao fundo da caneca de vidro a tentar se lambuzar quando a deixei aprisionada. Seria questão de tempo matar o inseto que me importunava, todavia, eu sentia dó ao vê-la batendo suas asas nas paredes desesperadamente tentando escapar e mais que depressa a libertei.

O inseto voou para bem longe como uma nave desgovernada e aliviou minha mente.

Após alguns segundos, retornou nobremente a estacionar sobre o meu ombro silenciosamente e agradecer por tê-la deixado ir. Vi em seu olhar uma mensagem:

— Sem a minha presença, você não comeria chocolate.

Ed Ramos
Enviado por Ed Ramos em 19/10/2024
Reeditado em 19/10/2024
Código do texto: T8177093
Classificação de conteúdo: seguro