A Inusitada Jornada do Sonho

Certa vez acordei com a mente fervilhando após um sonho que considerei bastante peculiar, onde três das quatro principais empresas em que trabalhei e trabalho se misturavam em uma confusão deliciosa de cenários e situações. No entanto, a ausência daquela onde passei 25 anos, foi o que me deixou intrigado.

Como todo sonho que se preze, não houve um começo definido, como nos filmes. De repente, lá estava eu, a bordo do Navio FPSO Maria Quitéria, da Petrobras. Para os não iniciados, um FPSO (Floating Production Storage and Offloading, que significa "Unidade flutuante de produção, armazenamento e transferência") é uma plataforma de exploração de petróleo com forma de navio, que fica ancorada em um campo de exploração com inúmeros tubos conectando-o aos poços no fundo marinho. A primeira bagunça onírica surgiu aí: embarcar no Maria Quitéria deveria significar trabalhar na plataforma, mas, no meu sonho, ele estava no porto do Rio de Janeiro se preparando para zarpar para Vitória. E eu embarquei nele apenas para pegar uma carona.

Mas a coisa ficou ainda mais curiosa: eu não estava embarcado como empregado da Petrobras (minha atual empresa), mas sim como marinheiro militar, que foi minha primeira profissão oficialmente registrada. Todos os tripulantes eram da Marinha do Brasil e me questionavam por que eu havia saído e resolvido voltar depois de tantos anos. Não lembro se respondi, provavelmente não.

Logo após embarcar, o comandante me informou sobre algumas mudanças de última hora na rota da viagem. O navio finalizaria a viagem em Vitória, mas antes iríamos para Punta del Este, no Uruguai, e depois para o Chile, em uma cidade chamada “Colo-Colo”. Sim, você leu certo, Colo-Colo, que, na realidade, é um time de futebol e não uma cidade. Meu subconsciente, sem dúvida, estava se esforçando para criar uma geografia própria.

Ao saber dessa mudança, liguei para a Capitania dos Portos em Vitória e perguntei ao comandante se poderia seguir viagem com o navio, pois seria uma experiência única, pois, isso e real e não é uma piada, passei cinco anos na Marinha, mas nunca embarquei. O comandante, generosamente autorizou a minha viagem. Eu, exultante, fui avisar à tripulação que estava tudo certo que amigavelmente alertaram-me sobre a necessidade de roupas de frio, pois eles perceberam minha pequena mochila que, provavelmente só havia camisas e camisetas.

“Fui pro chão” – gíria da Marinha que significa desembarcar temporariamente – para comprar roupas adequadas. No caminho, encontrei vários ex-alunos da universidade onde lecionava Engenharia de Produção e, com muita empolgação, contei-lhes a história. Todos ficaram felizes e me desejaram uma boa viagem. Nos abraçamos e nos despedimos.

Rodei o Centro de Vitória, sim, você leu corretamente, como um bom sonho deve ser , de repente estava no Centro de Vitória ao invés do Rio de Janeiro, em busca de casacos, luvas e gorros. De repente, as coisas começaram a desandar: lojas sem fim, corredores intermináveis e, claro, nenhum casaco, luva ou gorro à vista.

Sonhos têm dessas coisas: não têm começo nem fim, mas podem ter um contexto. E, no meu caso, acordei intrigado por envolver três empresas que trabalhei – a atual, a Marinha e a universidade – e não aparecer nada referente àquela onde fiquei por 25 anos. Talvez seja apenas um detalhe, mas foi esse detalhe que mais me chamou atenção. Afinal, sonhos são assim: um convite à reflexão e, quem sabe, a algumas boas risadas.

Sonhar é de graça, e a imaginação não tem limites.