AMOR INSONE
AMOR INSONE
Marília L. Paixão
Tropeçaria no tapete em busca de palavras novas, mas as novas palavras me atropelam mais que me serve o tapete. Melhor o carinho das palavras velhas que se aconchegam devagar. Bem que eu poderia ter aproveitado da mala aberta e olhado umas fotografias. Poderia ter me presenteado com isso. Uma manhã de lembranças teria me feito melhor que uma manhã de limpeza em gavetas. Estava mesmo era evitando um monte de lágrimas daquelas que surgem toda vez que olho os dois juntos. Os dois mundos de você e eu.
Toda vez que penso na palavra mundo, sua voz, sua gargalhada, seus gestos mais calmos e todos os seus sorrisos revelam um inteiro país. Eu vejo você em cada bandeira de cada filme que assisto. O mundo inteiro é lindo se você ainda vive e reflete no espelho em cada manhã como sempre fazia. Pensar em você é pensar em beleza em todas as cores.
E como você achava bonitas as cores do meu país! Via-se tão livre nele mesmo tendo apenas três meses de garantida permanência. Nada lhe tirava a alegria! Bastava estar lado a lado. Eu bem que adorava me sentir sol ao seu lado. Eu bem que adorava adormecer lua ao seu lado. Eu bem que devia ter ficado por lá com você por mais tempo.
A beleza da vida está mesmo no amor. E o amor está onde você o encontra. Encontrado o amor nada lhe tira o dadivoso encanto e nem o lugar eternizado no coração. Há amores que superam dores e conceitos. Que se fossem virar poesia seria para fazer de um poeta um dos melhores do século, é por isso que o meu amor se cala para não ferir um outro. Deve ser por isso que já não se fazem poetas como antigamente. E se fazem melhores, já não há mais campo para serem reconhecidos como eles merecem.
Entristece me saber que há um espaço nos meus campos de você onde sequer posso escrever seu nome. Por tudo isso, você ficará sendo para sempre o meu amor insone. Um amor que não dorme para lhe garantir eterna permanência em minha pátria mesmo você estando na sua.