MINHA CALOI
Aproximava-se o aniversário de minha sobrinha e afilhada Ana. Faria quinze anos e eu prometera presenteá-la com uma bicicleta. Secretamente, tinha a ideia de usar o presente para aprender a me equilibrar e pedalar, pois eu nuca tivera a oportunidade, ou a sorte, de ter ganho uma em minha infância e juventude.
Quando mudamos do interior de SC para Curitiba, o dinheiro era curto e papai não comprou bicicletas para os filhos. Com o orçamento apertado, deu prioridade às necessidades mais básicas e importantes, alimentos, saúde, estudo, roupas, calçados. Fui às compras e decidi-me por uma Caloi Ceci rosa choque, com uma cestinha presa ao guidom e espaço atrás para eventual carona.
Era um modelo tradicionalmente usado por adolescentes, porém não me importei. Guardei-a na garagem do prédio onde morava e, lá mesmo, comecei a treinar. Demorei algum tempo para adquirir o equilíbrio necessário, porém não desanimei. Adolescente eu já não era. Estava pela casa dos quarenta e muitos e agilidade e reflexos não eram os mesmos dos quinze. Dificuldades adicionais foram marchas e freio. Superados os desafios, senti-me pronta para deixar a garagem e tomar o rumo da ciclovia, que ficava a cerca de 500m de casa.
Logo eu estava habilitada a usar uma bicicleta de adulto. Meu companheiro comprou uma para si e outra para mim e foi uma alegria irmos juntos, pedalando, todo domingo pela manhã, quando não chovia, até o Parque da Barreirinha ou ao São Lourenço.
Na volta, cansados e com fome, passávamos em uma padaria, no caminho, e trazíamos um frango assado ou outra mistura para o almoço, que era terminado a quatro mãos, com arroz e salada, para completar o cardápio improvisado.
Reminiscências de nossa vida em comum, naqueles idos de 1980 e 1990. Nunca sofri uma queda e nem ralei os cotovelos ou os joelhos nessas aventuras ciclísticas. Pedalávamos sempre nas ciclovias, mas tínhamos que atravessar avenidas de grande tráfego.
Ao me aposentar, desisti da bicicleta e a vendi. Uma queda nessa idade poderia causar fraturas e sequelas para o resto da vida.
Prudência e bom senso não fazem mal a ninguém.