AMOR À VIDA

Por razões que não pretendo aqui discutir existem muitos indivíduos que possuem a convicção de que a vida começa no berço e se encerra no túmulo, opinião essa que apresenta alguns argumentos que num primeiro exame parecem racionais, mas que com todo o respeito me permito discordar.

Sabemos que o nosso corpo é frágil: de um momento para outro a vida nele pode se extinguir, não sendo necessário ser acometido por uma doença devastadora para fazê-lo perecer; uma queda violenta, um acidente automobilístico etc. pode ser o bastante para fazer que o organismo cesse sua atividade. Não obstante, nós, ateus, materialistas, religiosos ou simplesmente espiritualistas, vivemos planejando o dia de amanhã, como se o fenômeno biológico da morte, tão natural quanto o nascimento, nunca fosse nos atingir.

Ora, sendo o fio da vida tão tênue e breve não seria mais natural e racional que procurássemos viver intensamente o hoje sem fazer planos para o porvir? Para que consumir suas energias e desperdiçar o seu escasso tempo aqui com a reforma de uma casa, com o aprendizado de um novo idioma ou profissão? Para que cursar uma nova faculdade, uma vez que todo o conhecimento pessoal adquirido na efêmera existência desaparecerá no túmulo? Não seria melhor viver apenas para a satisfação das nossas necessidades básicas e instintivas: comer dormir e copular, assim como fazem os animais?

Por mais que alguns indivíduos afirmem que a crença na vida após a morte seja fruto de uma educação religiosa imposta ou desejada, a verdade é que desde as épocas mais recuadas a humanidade guarda uma espécie de intuição na qual a vida ultrapassa o limite do corpo físico; o que vem mudando ao longo do tempo são as ideias que o homem tem concebido sobre o que o aguarda após o esgotamento do envoltório grosseiro, ideias essas que sim, são produtos do pensamento religioso ou filosófico. Há também, seja no homem primitivo ou dito civilizado, a intuição de que existe um Ser Supremo que rege o universo.

Claro que nossos ancestrais imaginavam divindades como causas de fenômenos naturais que eles não podiam compreender e que mais tarde a Ciência veio a desvendar, todavia, Deus ou a Força criadora do universo permanece vivo no seio da humanidade, além das religiões.

Ainda sobre a finitude ou continuidade da vida gosto de pensar na seguinte figura: imagine um pai presenteando o filho com um lindo brinquedo; deixa-o brincando feliz por alguns dias e depois, sem qualquer aviso prévio, toma o brinquedo das mãos da criança e o quebra em pedaços. Agora imagine a vida como um lindo presente que depois de nos apegarmos a ela, ser-nos-á retirado.

Nossa consciência profunda tem horror à ideia do nada, do aniquilamento da vida. Aliás, o que é o ‘nada’ numa natureza em que coisa alguma se perde e tudo se transforma?

Constitui um direito e um dever do homem encarnado trabalhar por manter a boa saúde do corpo físico a fim de torná-lo mais longevo, não pelo temor da morte, mas por amor à vida.

Num mundo por vezes tão hostil, o que faz a gente acordar todas as manhãs, pentear os cabelos, colocar um sorriso no rosto e ir à luta é a esperança em um futuro melhor para nós e para os que amamos, afinal a vida continua e deve progredir sempre.