🔵 Qual anjo protegerá um cara que não dá o braço a anjo algum?

Não havia motivo para fugir de casa com apenas 2 anos de idade: psicológico nem rebeldia, muito menos existencial. A não ser que a mamadeira estivesse entupida ou o berço molhado. Mas, na verdade, eu acho que largaram o portão aberto.

Talvez guiado por um amiguinho imaginário ou por um anjo da guarda que respeitasse as leis de trânsito e desconfiasse da responsabilidade dos meus pais, eu resolvi fazer um passeio e ganhei a rua 13 de Maio. Não acharia comum se eu visse um bebê circulando pelas ruas do bairro ou atravessando a avenida. Entretanto, deveria existir uma ingenuidade setentista que fez aquela cena parecer banal.

Assim, curioso e achando tudo aquilo normal, segui minha expedição e explorei alguns quarteirões da cidade. Caminhei por calçadas, ruas e avenidas da Vila Galvão, em Guarulhos. No entanto, meu périplo urbano foi interrompido quando alguém me levantou e agarrou no colo. Logo vi que seria impossível continuar a minha caminhada independente e perdi a autonomia conquistada com muita discrição, invisibilidade e um pouco de agilidade, provavelmente, com um descuido. Fim da aventura.

Graças a Deus, pessoas conhecidas me resgataram antes de eu ser atropelado, raptado ou mais uma vítima da violência urbana. Cheguei em casa, fui recebido pela Polícia Civil e seu histórico Fusca/Camburão preto e branco, uma multidão de populares e uma mãe prestes a chamar o Gil Gomes ou, outro jornalista policial, o também sensacionalista ‘Homem do Sapato Branco’.

Numa vingança do universo infantil, minha mãe teve todos os motivos para acreditar nos célebres raptores de crianças: bicho-papão e Homem do Saco. E fábulas, como ‘O Flautista de Hamelin’.

RRRafael
Enviado por RRRafael em 23/07/2024
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