Capivara
“Sou uma capivara.”
No meio do percurso, dirigindo, soltei essa frase. “Hein?”, perguntou a Joyce, confusa. “Já viu como é uma capivara? Não se abala, sempre de boa. Por algum motivo, me sinto assim hoje.” Ela não deu prosseguimento à conversa. Ia irritada, cheia de coisa pra fazer e sendo obrigada a me acompanhar até uma cidade onde não queria ir, para fazer algo que não seria de nenhum beneficio para nós, com um carro que não era nosso.
Horas depois, terminado o que tínhamos ido fazer, já sem carro, íamos andando até o ponto de ônibus. A paisagem era bonita, perto de um rio, muito natureza, mas não me sentia mais tão plácido. Estava chateado, cansado, um dia inteiro perdido.
De repente Joyce, que ia segurando meu braço, parou, olhando para alguma coisa poucos metros à frente, fascinada. Olhei também, e foi então que vi — pela primeira vez ao vivo — uma família de capivaras. Três adultas e uma meia dúzia de filhotes de tamanhos variados. Bolas de pelo dentuças, na beira do rio, comendo mato. Ficamos olhando e suspirando. Fofura demais. Os motoristas que passavam reduziam para poder olhar melhor.
Me admirei da coincidência. Tinha pensando mais cedo em capivara, louvei suas qualidades deboísticas, e agora havia ali um bando de capivaras de verdade. Era como se meu pensamento se tivesse materializado.
Não foi um dia perdido, no fim das contas.