Ainda É Possível Curar O Mundo? (Homenagem aos 15 anos sem Michael Jackson)
Uma noite de sábado (15/06/2024) ficou marcada como o instante em que fui em um dos melhores shows da minha vida. Ali, eu senti um pouco da energia de um dos meus maiores ídolos de sempre: ninguém menos que o Rei do Pop. Mesmo aquele show sendo de um cover/impersonator, nunca vou esquecer da sensação de estar naquele centro de eventos do maior shopping da minha cidade, na companhia da minha prima que, assim como eu, não pôde ver o próprio Michael ao vivo, nem acompanhar em tempo real o lançamento de seus clipes, discos e canções. Mas o que será que me fascina tanto neste artista que me fez comprar o ingresso com antecedência e até planejar cada detalhe do meu traje de forma a se assemelhar a ele na capa do disco Bad (jaqueta de couro preta, luva sem dedo e com fivela, botas, calça preta com cinto)? Ele não se encontra mais fisicamente entre nós, tinha comportamentos considerados "excêntricos" por não ter vivido uma infância saudável... Como um artista e ser humano como Michael Jackson ainda pode me fascinar tanto, mesmo em meio aos lançamentos nas plataformas de streaming, vídeos virais do Tik Tok... ?
Não podemos negar sua contribuição para a indústria musical, a cultura pop em geral e a conscientização social e ambiental. Ensinou desde a "estudar os grandes" para se tornar o melhor artista possível, até sobre a necessidade de "curar o mundo". Enfim, um indivíduo de muitas camadas. Mas neste texto, vou explorar melhor o lado humanitário de MJ, por ser o menos difundido e por eu sentir que falar sobre MJ sob essa ótica seria, mais do que relembrar uma parte de seu legado, um lembrete para nos melhorarmos, ainda que forçadamente, em meio ao caos que estamos vivendo.
Se por acaso me perguntassem o que torna Michael especial, minha resposta seria sua sensibilidade perante os principais problemas do mundo e o fato dele me guiar em minhas transições de vida: da infância à pré-adolescência e, agora, da adolescência tardia até a vida adulta. A cada nova fase, novas descobertas sobre MJ e sobre a vida como um todo são feitas. Quando eu me tornei sua fã com quase 10 anos de idade, justo na ocasião de sua passagem para outro plano, MJ foi quem me deu as primeiras noções sobre conscientização em meio a uma pesquisa aprofundada sobre sua vida e obra. Foi com ele, o artista que mais doou para a caridade na história, que aprendi o significado de "filantropia", e, desde então, sempre procuro uma oportunidade para praticá-lá, dentro das minhas condições. Achava tão cativante e singular a forma como ele se posicionava diante destas questões delicadas em parte de suas canções e até discursos e poemas (sim, ele já escreveu versos sem intenção de musicá-los), que na escola e inclusive nas aulas de catequese, eu fazia questão de citar trechos destas canções em atividades que envolviam desenhar e escrever mensagens com apelos humanitários. Porém, nunca atribuía tais citações ao Michael, pois, na época, eu me envergonhava muito do meu gosto musical ainda em formação. A partir da pré-adolescência, tendemos a seguir mais as tendências do momento e a fugirmos cada vez mais de nós mesmos. Hoje em dia, não tenho mais este sentimento. Ultimamente, estou aproveitando minha maior maturidade em relação a 15 anos atrás para refletir sobre a importância de rirmos mais dos nossos próprios defeitos, tropeços e das circunstâncias desafiadoras que temos que passar e tirar proveito de tudo isso. A chave para uma vida equilibrada é justamente o conciliação do nosso "adulto" com nossa "criança interior". Não é a falta de experiência da criança que a impede de torná-la sábia no momento certo. Só precisamos conter nossa inquietação e escutar sua voz baixinha em nosso interior. Voltando ao 15/06, antes de irmos naquele show, eu e minha prima passamos por algumas lojas de brinquedos, bem como MJ gostaria, só para reprogramarmos um pouco nossas mentes para não nos preocuparmos mais tanto com os problemas diários, e sim só contemplarmos a magia do momento presente. Reservemos sempre um instante de vida para ouvirmos o apelo da nossa criança interna. Estando ela radiante ou reprimida, tudo que devemos fazer é abraçá-la e dizer à ela: "Segura a minha mão, vamos caminhar sem medo e mostrar quem realmente somos e do que somos capazes".
Além de enfatizar sobre a manifestação do nosso lado mais puro e ingênuo, Jackson, há mais de 20, 30, 40 anos atrás, já alertava sobre a urgência de cessarmos os conflitos humanitários e a destruição do planeta (isso por acaso não ressoa com o que está acontecendo atualmente?). MJ também denunciava todo tipo de injustiça e discriminação, não só contra ele mesmo, mas toda a humanidade. Seu amor pelo planeta era tanto, que até declarações de amor ao nosso planeta ele produziu, como o belíssimo poema Planet Earth.
Seria então ainda mais doloroso para ele, nos dias atuais, se deparar com o crescimento absurdo das fake news, dos discursos de ódio, polarizações, extremismos, fundamentalismos e tantos -ismos e -fobias que estamos cansados de ouvir.
Quanto tempo será que levamos, das 24 horas que temos por dia, para nos olharmos no espelho e enxergarmos o que é preciso melhorar em nós mesmos para, aí sim, melhorarmos o cenário à nossa volta?
Quantas infâncias, quantas vidas ainda terão que ser ceifadas para enfim aprendermos a conviver em paz?
Quantas árvores e campos floridos terão que ser retirados até percebermos que a natureza, mesmo generosa conosco, é limitada?
Escutemos mais nosso próprio reflexo no espelho.
Escutemos mais nossa criança interior.
Escutemos mais os clamores da mãe natureza.
Escutemos mais Michael!
Ser um dos mais ouvidos de todos os tempos não necessariamente o torna mais escutado.
É preciso coragem para dizermos o quanto amamos, nos importamos com alguém que não nos damos bem ou que, por mal conhecermos, julgamos desnecessariamente. Será que não estão em nosso caminho para nos ensinar algo? "Não sejamos tímidos", como dizia MJ, se notarmos algo de errado conosco e com quem está no nosso convívio.
Michael então segue atemporal, mais necessário que nunca. Deve estar voando em alguma Neverland paralela, longe das intempéries ainda predominantes neste mundo, mas ainda se dispõe a nos ajudar a curar nosso mundo interno e externo através da arte que aqui deixou, não importa nossa cor, nossas crenças e convicções.
Viva Michael Jackson! Viva a criança discreta, mas potente que habita em nós!
Referências
Discurso no Exeter Football Club, Reino Unido, 2002 (https://youtu.be/9bffSXg7eB4?si=NfcYiDzJM3jPt3Gw)
Planet Earth poema (https://youtu.be/ys3Xo7u5dqI?si=ECjebKVNe8b4ZSBC)
Canções Black or White, Earth Song, Heal the World, Man in the Mirror, What More Can I Give, Hold My Hand