Alguém tem de fazer alguma coisa
Talvez, no início da civilização, após todos terem observado que seria mais seguro reunirem-se num sistema tribal, isso mesmo, dentro do mesmo pensamento – povo unido jamais será vencido - tenha sido uma das primeiras idéias a habitar o cérebro humano. Nem tinham inventado direito um meio de comunicação pela voz, uma língua, depois um idioma, depois as gírias, os modismos, mas a idéia certamente fervilhou naqueles cérebros recém-formados – alguém tem de fazer alguma coisa. Por conseqüência, surgiu um líder. Depois, da idéia de perpetuá-lo, surgiram os reinados. Mas a vontade dos reis, suas deficiências administrativas, até mesmo psíquicas de atear fogo nas cidades foram, pelos séculos, se agravando num inchaço de fenômenos, distanciamento do Estado, qualidade de vida e felicidade entre governo e governados, que inventaram a República, aperfeiçoada sob a forma de Democracia, governo do povo para o povo, de uma sonhada igualdade de direitos, de condições, em que tudo pertence a todos, mesmo carimbando os carros com frases tipo “uso exclusivo em serviço”, mas que ainda serve para levar e buscar os filhos na escola, ou uma feira rápida no supermercado. E, de programas miraculosos, tudo pela educação para todos, saúde, transportes, energia, segurança pública, resultados também fantásticos. Assim como, com menos de oitenta e nove bilhões de reais em circulação, pagar por ano cerca de cento e cinco bilhões ao funcionalismo público, seja do Executivo, Legislativo ou Judiciário. Como? Certamente, os trinta e cinco ministros não encontrarão juntos ou em seus gabinetes, nenhuma resposta. E, a República se sedimentou no princípio da soberania entre povos e poderes, ainda que interligados por interesses comuns, por várias leis, entre elas, a de Gerson, a de São Francisco, percebendo que é dando que se recebe. Para aguçar a esperança, nada melhor de cuidar do desenvolvimento, obras e mais obras, dinheiro para todos, nem que seja instalando um banco do aposentado em cada esquina ou autorizando os magazines comercializar o próprio dinheiro. Dinheiro em carnês, de plástico (80 bilhões de cartões de crédito, que movimentam 152 bilhões por ano), bolsas sociais (escola,família,vale-gás), finalmente, numa folha de cheque, gerando um tumultuado imposto tido como provisório, chamado CPMF. Mina de dinheiro para tantos projetos. O lema é o do programa do Silvio Santos, a excrescência – tudo por dinheiro.
Como na Monarquia, nas grandes cidades tinha barricadas, na República, oposição, como aquela de Lacerda que quase crucificou Juscelino pela compra do porta-aviões Minas Gerais. Hoje, falam em construir um submarino atômico, custando uma fortuna para defender as costas brasileiras, talvez, do sem-mar e o que não deveria incomodar, pelo que já fizeram os sem-teto, os sem-terra. E, deixando desguarnecido todo o resto de nossos limites, por onde entra a droga para contaminar nossa gente. Combate ao tóxico virou coisa tão séria, que Aguinaldo Silva, autor da novela em que criou uma favela sem vícios comandada por um lendário Guilherme Tell chamado Juvenal Antena, passou a ser ameaçado de morte por telefone. E, as ameaças na República continuam, de assaltos, de bala perdida, de novos mandatos, aumento de preços, falta de produtos, sem a Humanidade perceber que, gradualmente, falta Deus. O homem moderno se tornou mais bárbaro que o homem das cavernas. Sem desenhar uma utopia nas cavernas, só falta voltar a adorar o sol, a lua, respeitar a natureza, encontrar Deus e retornar ao mais antigo pensamento, antes mesmo de descobrir a língua para manifestação – alguém tem de fazer alguma coisa.