LILICO E SUA RECEITA DE FEIJÃO
Mesmo se achando independente financeiramente, meu amigo Lilico era dependente dos pais em tudo: casa, comida, roupa lavada e alguns trocados para pagar dívidas nos botecos da cidade.
Rotineiramente acordava às 11 horas, mal tomava o café e saía correndo para viver sua felicidade de dependente alcoólico pelos barzinhos da vida, voltando para casa de madrugada para dormir o sono dos justos.
Era raríssimo ele comparecer em casa para almoçar. Quando eventualmente aparecia, sua mãe, pacientemente e na esperança de ver o filho um dia liberto do álcool, começava a enchê-lo de conselhos. Num raro dia, sentou-se à mesa para almoçar e, na tentativa de driblar os conselhos enfadonhos da mamãe sofredora chamando a atenção para suas atitudes inconsequentes, ele artisticamente botou aquele olhar angelical de filho único e com a lábia que lhe era peculiar buscou convencer sua genitora a cozinhar o feijão com cachaça sob o argumento de que não existia remédio mais eficaz para o tratamento de demência e artrite do que o caldo de feijão mulatinho cozido com Caninha 51.
Evidente que a senhora sua mãe jamais acreditou em tal receita milagrosa.
Autor: Benedito Morais de Carvalho (Benê)