LILICO NO BAIXO MERETRÍCIO

 

      Quando da minha ida a Bacabal, fui informado que meu amigo Lilico estava passando por vários problemas de saúde, que seu figado, prejudicado pela bebida, já não respondia aos tratamentos prescritos pelos médicos. Como paciente rebelde, jamais aceitou os internamentos nas clínicas de recuperação para alcoólatras, responzabilizados pelas recaídas de alguns frequentadores, foi expulso sumariamente dos Alcoólicos Anônimos.

     Num atendimento de emergência, Lilico foi internado no hospital municipal, vítima de coma alcoólico e por ordem médica todas as visitas foram vetadas. Quarenta e oito horas após a internação compulsória, Lilico, num passe de mágica, sumiu. Escalou o muro do hospital às 18 horas e fugiu para lugar ignorado, avisada pela família, a polícia intensificou as dilgências ao intrépido fujão, e às 23 horas Lilico foi encontrado no Cabaré da Mudinha, trajando uma camisola hospitalar, segurando o soro com a mão esquerda e um copo de cerveja com a outra mão, pajeando três meretrizes e cantando  feliz da vida: "Deixa a vida me levar. Vida leva eu".

     Logo em seguida, quando Dona Vera entrou desesperadamente no promíscuo recinto, nervosa e xingando o filho com palavras de baixo calão, Lilico, com aquele olhar angelical e apontando para  as prostitutas que o acompanhavam, começou a sussurrar: "Mamãe, não fale nomes feios, olhe as moças aí".

 

Autor Benedito Morais de Carvalho (Benê)