Conexões Desvanecem
Não era a minha intenção ir para o nosso lugar preferido, no entanto, quando percebi estava sentada no banco da praça onde costumávamos nos encontrar. Tudo parece igual, até que as folhas das árvores começam a cair lentamente ao meu redor e só assim me dou conta de que o outono chegou.
Encho os pulmões de ar e sinto a brisa fresca do cheiro de terra úmida. O djavú do momento se reverbera e mostra, no peso das lembranças, os momentos em que nossa conexão parecia mais forte, mais real. Hoje, porém, sinto apenas o som do silêncio.
Lembro-me das conversas intermináveis e dos olhares que não precisavam de palavras. Éramos almas gêmeas, ou pelo menos foi o que acreditamos durante um tempo. Quando tudo ao redor parecia incerto, havia a certeza inabalável do nosso companheirismo, ligação profunda e inexplicável, que parecia transcender o comum.
Entretanto, como as estações, tudo muda. Aos poucos, percebi que algo dentro de mim estava diferente. Talvez a vida tenha articulado reviravoltas e novos caminhos. Ou talvez é simplesmente o curso natural das coisas. Mas a verdade é que aquele sentimento de conexão, antes tão intenso, começou a desvanecer.
Não foi um momento específico, um evento marcante. Foi um processo sutil e quase imperceptível. As conversas que antes fluíam com facilidade agora se tornavam forçadas. O entusiasmo que eu sentia ao compartilhar minhas vitórias e derrotas foi substituído por uma indiferença desconfortável. Na rotina fatídica e intensa, não percebi as rachaduras surgindo, será que se tivéssemos percebido antes, teríamos feito algo diferente? Talvez, se tivesse pensado sobre essa possibilidade antes, eu a teria achado insuportável, ou quem sabe isso teria me destruído.
Mas hoje, ao ver as folhas caírem, aceito com uma calma resignada. Compreendo que algumas conexões são intensas e profundas, mas não necessariamente eternas. Elas vêm para nos transformar, nos ensinar algo sobre nós mesmos e sobre o outro. E quando cumprem seu propósito, seguem seu curso. Ainda o estimo, é claro. O que sinto hoje não dissolve em ressentimento ou amargura, mas se transforma em uma lembrança carinhosa de um tempo que passou. Não amo mais como antes, e essa aceitação traz consigo uma paz inesperada. Entendo que não precisamos nos apegar ao que foi, mas abraçar o que é e o que pode ser.
Levanto-me do banco e caminho em direção à minha nova estação, carregando comigo as memórias de um amor que foi e a tranquilidade de saber que tudo tem seu tempo. E assim, sigo em frente, com gratidão pelo que foi e esperança pelo que ainda virá, dou uma olhada ao redor para contemplar pela última vez nosso lugar preferido, porém quando decido ir embora, vejo você e me perco na íris do teu olhar...