AMIGOS DESCONHECIDOS
Todos os dias eu os encontro. Na verdade, quase todos os dias. Reconheço seus rostos, mas não sei seus nomes. Sei onde os encontro, que parte do caminho. São meus amigos desconhecidos das caminhadas matinais. Alguns seguem nas suas caminhadas também, no sentido oposto ao meu. Outros estão saindo para o trabalho, apressados para pegar o ônibus.
Um senhor com sorriso largo, muito simpático, com a bolsa na mão, é o meu primeiro encontro. Geralmente está atravessando para o lado oposto da rua em que sigo e vai para o ponto do ônibus. Logo atrás vem uma senhora magrinha, sempre fumando, e sempre sorrindo, indo na mesma direção. Às vezes encontro também outra mulher, que usa saias longas, blusas que cobrem bem o corpo, tem cabelos bem compridos e não usa maquiagem. Nem sempre ela me cumprimenta, e quando o faz é quase sem nenhuma expressão. Também segue para o trabalho.
No mesmo trecho do caminho encontro o “santista”. É um senhor de mais idade, baixinho, gordinho, olhos claros e cabelos grisalhos escondidos embaixo de um chapéu panamá, quase sempre usando uma camiseta do seu time do coração, o Santos. Ele é muito simpático, tem um sorriso bem aberto, olhar meigo e sempre me cumprimenta com entusiasmo, às vezes até fala alguma outra coisa, sobre o dia ou sobre o percurso. Encontro-o na ida e na volta, todos os dias. Dias desses, na volta, ele sorriu e me disse “até amanhã”, mostrando que nossos encontros rápidos são esperados. Logo atrás dele também vem um outro senhor, grisalho também, mais alto e magro que o santista. Vem num ritmo animado, de quem já está bem acostumado a fazer caminhadas matinais. Outro parceiro de ida e volta, com a mesma simpatia do primeiro, que também arrisca algumas frases além do tradicional “bom dia”. Tem também o homem sem camisa que passeia com cinco cachorros, só um deles preso numa corda. Ele está sempre sem camisa, e me cumprimenta de vez em quando.
Mais à frente, na curva, perto de um lugar que gosto de chamar de meu cantinho, encontro um casal passeando com o cachorro. Esses são mais recentes, não os encontrava antes. A mulher me cumprimenta sorrindo e olhando nos olhos, mas o homem nem sempre o faz. Há outro casal que também encontro ida e volta. Andam bem rápidos, ritmo de treino mesmo, animados e estão sempre conversando.
Na subida da rua tem um senhor que demorou para começar a me cumprimentar. Deve ser muito tímido. Sei que ele faz longas caminhadas, pois já o vi em ruas bem distantes daquelas, e descobri há não muito tempo que ele mora nessa rua da subida, bem de frente para o nascer do sol. Agora que já está mais acostumado com minha presença, sorri quando me vê, mas olha rápido e logo desvia o olhar. Próximo dali vejo uma mãe, idosa, com seu filho. Ele nunca me olha, fica sempre olhando para o cachorro que os acompanha amarrado numa corda. Ela sorri rapidamente e cumprimenta com um aceno, às vezes nem isso. No fim dessa subida, próximo ao meu ponto de retorno, vejo as duas senhorinhas, uma bem mais velha que a outra, ambas magrinhas. Sempre conversando, me cumprimentam com sorriso.
Faço meu retorno na praça e começo o trajeto de volta, onde verei a maioria desses amigos desconhecidos novamente. Rostos que já são parceiros de caminhada, embora cada um siga seu caminho, no seu ritmo. Nos vemos todos os dias. Nos veremos novamente amanhã.