Papo de elevador
Numa terça-feira ordinária você se vê no elevador do prédio comercial onde você trabalha. Aquele que tem um carpete manchado e um espelho que reflete sua alma cansada. Sim, esse mesmo.
As portas se fecham, e você se vê preso em um espaço minúsculo com estranhos. A tensão é palpável. As pessoas olham para o chão, como se estivessem esperando encontrar ali a resposta para a vida, o universo e tudo mais. Mas, na verdade, estão apenas evitando contato visual.
E então começa a dança das palavras. Alguém pigarreia. Outro suspira. E finalmente, alguém solta a bomba: "E esse sol, hein?" Sim, o sol. O astro-rei que ilumina nossos dias e nos faz suar como um político em época de eleição. O sol é o assunto número um dos elevadores. Ele é o Voldemort das conversas: ninguém quer que ele seja mencionado.
A resposta padrão é um sorriso amarelo e um "Pois é..." seguido de um olhar vago para o painel de botões. Mas, no fundo, todos estão pensando: "Sim, meu caro, eu também tenho olhos e consigo ver o sol lá fora. Obrigado por me lembrar."
Outro clássico das conversas de elevador é a previsão do tempo. Alguém olha para o céu, franze a testa e solta: "Será que vai chover hoje?" Como se fosse um enigma digno de Sherlock Holmes. A verdade é que ninguém sabe. Nem o aplicativo do celular, nem o seu Manoel da banca de jornal, nem os meteorologistas. A chuva é tão previsível como ver o saci andando de patinete.
Mas a pergunta persiste. E você, com seu guarda-chuva esquecido em casa, responde com um otimismo fingido: "Acho que não, viu? Acho que vai só dar uma garoinha." E então, quando você sai do prédio, é surpreendido por um dilúvio digno de uma arca.
Às vezes, o elevador fica em silêncio. Um silêncio que pesa mais que a carga tributária brasileira sobre os contribuintes. Ninguém ousa falar. As pessoas se entreolham, como se estivessem participando de um jogo de pôquer mental. Quem vai quebrar o silêncio primeiro? Quem vai soltar a pérola: "E esse trânsito, hein?"
Mas ninguém se arrisca. O silêncio é nosso refúgio, nossa zona de conforto. É uma cápsula invisível que nos protege das perguntas inúteis e dos comentários óbvios. E assim, o elevador desce lentamente, como um caracol com dor nas costas.
Lembre-se sempre que você for entrar em um elevador: o sol está lá fora, a chuva é imprevisível e o silêncio é nosso melhor amigo. E se alguém perguntar sobre o trânsito, apenas sorria e pense: "Ah, o retrocesso da inteligência humana, sempre nos unindo nos momentos mais improváveis".