— Etilistas Anônimos
São oito horas da manhã...
Retornando de minha rotineira caminhada matinal , atravesso a praça principal de minha pequenina cidade.
Em frente a um bar, sentados na mureta que contorna os canteiros, estão três homens.
Um deles me acena com um cumprimento, em um arrastado "bom dia"( aqui, em minha pequenina cidade, ainda mantemos o costume de saudar as pessoas, e todos se "conhecem")
Percebo sinais de embriaguez, provavelmente passaram a noite por ali.
Um deles se levanta para atravessar a rua. Do outro lado, na porta do bar, alguém lhe acena mostrando um copo contendo uma bebida de cor amarelada.
Com o corpo balançando pra frente e pra trás, num esforço hercúleo para manter o equilíbrio, ele vai de ré.
O amigo que está próximo o adverte, e tenta em vão segura-lo. Após três titubeantes passos ele cai com as costas estiradas ao chão.
Atravesso a rua, e ofereço ajuda pra levantá-lo. Percebo que tem um corte grande em sua testa, e que sangra muito.
— mas ele caiu de costas , e esse ferimento ? - indago curiosa...
— Uai Graça! hoje ele caiu três vezes, e esse corte foi de ainda há pouco, e já foram lá no hospital buscar socorro.
Para a operação resgate, dois outros voluntários ofereceram ajuda, e conseguimos colocá-lo no gramado, sob seus protestos de que conseguiria levantar sozinho.
— podeixar num tô bê-bê-êê...bêbido, repetia confuso
Logo a ambulância chega, e numa operação conjunta, ele é rebocado pra dentro do veículo, não sem antes soltar um palavrão quando sua calça foi pro chão.
Literalmente com as calças na mão, ele foi acomodado no veículo. O amigo ofereceu para acompanha-lo.
A moça que conduzia a ambulância avaliando a situação, concordou de imediato —vamos lá, você também precisa de uma glicose, senão daqui a pouco tenho que voltar pra buscar você.
— que isso? eu tô bão, só bebi três meiotas hoje, e foram pra UPA.
Prossigo minha caminhada, refletindo na tristeza daquela cena deprimente.
Aquele moço ali alcoolizado, e os outros que o acompanhavam são pessoas amigas, velhos conhecidos.
Foram meninos cheios de Vida, saudáveis, com muitos sonhos de felicidade.
Aquele moço que vi ali no chão, é o amor de uma mãe, é o amor de seus irmãos.
Em algum momento de seu viver ele se embrenhou por suas sombras, e não está encontrando a saída.
Elevo uma prece aos céus e o desejo de
que ele encontre forças e queira voltar, que reencontre a sua estrela guia, e resgate sua dignidade.
Que ele reencontre o menino, o jovem, o homem que se perderam N'ele e dele.
Que nesta Páscoa, ele tenha forças para trilhar o caminha da Vida, e ressuscite dessa Morte chamada Alcoolismo.