Aulas de violão
Não era apenas uma mera aula de violão, era o "desabrochar de um botão de rosas", tardio mas não tarde demais.
As cordas afinadas e desafinadas dos violões dos alunos e os sons roucos que saiam da garganta do velho professor passavam uma mensagem de esperança: "eu ainda posso", e o tempo não tem nada a ver com isso. E mesmo com os calos nos dedos e a voz desafinada, ia soltando melodias saudosa no "dever se casa" dentro do quarto levemente iluminado pela permissão da cortina transparente.
Ficava feliz por participar de alguma coisa, por satisfazer um pequeno desejo e por ouvir as músicas que lhe encantavam quando criança.
O velho professor cantava e tocava como um velho boiadeiro em frente a um fogueira rodeado de amigos. Fechava os olhos e simplesmente voava, parecia estar nas nuvens quando cantava aquelas canções que ouvia na rádio quando ainda era menino, moço e homem feito. Ele passava os dedos nas cordas do velho violão como se nem as tocasse, eram dedos ágeis, calejados e experientes, eram cheios de história.
Por fim, ela tentava acompanhar as cifras, os tons e o ritmo através de seus olhos adornados por um óculos marrom. E seus lábios rosados tentavam acompanhar a canção que todos cantavam juntos não importando quem fosse afinado ou não, era bom fazer algo junto, pensava. E então sorria e se imaginava estar numa grande e importante orquestra sem cor, sexo, credo, tamanho ou sensatez, eram apenas pessoas simples, mas especiais.
Ao final, colocava o violão na parede onde todos os outros ficavam e despedia-se de mais uma aula com um olhar satisfeito e orgulhoso de si mesma.
A volta para casa era acompanhada por pensamentos secretos, eles "voavam como passarinhos" ao redor de sua cabeça. Ela tentava afasta-los, mas eles sempre voltavam, então ela cantava e cantava até chegar em casa.