— Um deserto chamado Alzheimer.
De repente, tudo foi se perdendo, e seu olhar se fixou no vazio.
Não sabia mais onde estava, nem o porque de estar.
Tudo se fez estranho e medonho.
Gritos angustiados ecoavam na escuridão da escuridão sem fim.
Medo do nada, ou seria o medo da
ausência de Vida em Vida?
Os filhos que gerou, amamentou ,educou e amou , se tornaram estranhos a pertubar-lhe o juízo.
Não entendia e não mais se reconhecia ao ser chamada por Mãe.
Amanhecer e anoitecer era o mesmo do mesmo.
Angústia velada em um olhar que via e não enxergava.
Raros reflexos de lucidez e alegria.
E numa roda viva de perdas e mortes, o Alzheimer me fez "Mãe de minha Mãe".
Durante dez longos anos, o Alzheimer lhe tomou quase tudo, mas não conseguiu lhe tirar o nome e a fé.
Quando minha mãe partiu, ela tinha se esquecido de toda a sua vida, só não se esquecera de seu nome e de repetir a Oração do Pai Nosso, e ela sempre nos dizia — nunca esqueçam a oração que Jesus nos ensinou.
E assim ela concluiu sua jornada por aqui, sem suas memórias, mas sempre e pra todo o sempre, a nossa querida e amada Mãe.
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E no dia internacional da Mulher, a ela os meus aplausos e agradecimentos.