Conversa no botequim: Qual é a do Bolsonaro?
- O Bolsonaro é louco?
- Provavelmente. Ele pulava de paraquedas, não pulava? É certo que em um dos pulos ele bateu com a cabeça no chão, e com força.
- Ele não pulava de paraquedas. Saltava.
- Qual é a diferença, corinthiano?!
- Só um louco, e daqueles bem loucos, da espécie do personagem do Machado de Assis, se disporia a ser presidente de um país que há décadas tem as suas instituições corrompidas, de um país de gente que, mesmo escolarizada, não saber ler o próprio nome.
- Concordo. O Capitão é louco. Num país cheio de homem igual este aqui, feio, e banguela, de um dente só, e narigudo, e oreiudo e cabeçudo, e que não sabe ler o próprio nome...
- Chefia, a gelada!
- E os copos!
- Ligue a televisão, corinthiano.
- É cedo, ainda. O jogo, daqui uma hora.
- O meu nome eu sei ler, paspalho. Não sei ler o seu, que é de alemão misturado com holandês e suiço.
- Sou descendente de japonês, feioso.
- Gostosão! Descendente de japonês com nome germânico e húngaro, e sei lá eu...
- Ô, estrogonofe de carne-seca...
- É a sua mãe, cabeça-de-rosbife!
- Se é o Bolsonaro louco, ou não, não sei, mas doido ele é. Vós tendes idéia do que vai na cabeça de um homem que se casa três vezes e em cada casamento com uma mulher?!
- Querias que ele se casasse a si mesmo com duas mulheres, ou três, ou quatro?! Ora, pode ter ele corpo de atleta, mas, pôxa! vá lá!
- Quero dizer que ele se casou com mulheres diferentes, e não três vezes com a mesma mulher. A segunda mulher dele não era a primeira, e a terceira não é a primeira e nem a segunda.
- E você queria que ele se casasse três vezes com a mesma mulher?! O louco é você, e não ele.
- Não sei se sei... Não sei. Só sei que nada sei.
- Estás plagiando o Sócrates.
- O grego?! Não estou, não. Ele falava grego; eu, português.
- Verdade.
- O Bolsonaro... Ora, votei nele nas duas eleições. Ele foi um bom presidente. Fez mais, confesso, do que eu acreditava que ele poderia fazer. Não botei muita fé nele, não; no início, não; todavia, ele se saiu melhor do que a encomenda. Bobajou uma vez e outra, é verdade. Gosto dele, mas não posso fingir que não vi ele, uma vez e outra, quase todo dia, trocando os pés pelas mãos. Pesando numa balança o prós e os contras do governo dele, os prós têm mais peso.
- Cervejinha boa! Desceu redondo.
- Você está querendo dizer que pesando numa balança de dois pratos num prato os prós e noutro os contras os prós têm peso maior do que os contras. Em outras palavras: o Bonoro fez mais coisas certas do que coisas erradas.
- Por que me corrigiu, se eu, falando do jeito que falei, fiz-me entender?
- Mania do hábito.
- Mania do hábito?!
- É. Todo hábito tem manias. O meu hábito tem as dele. Mas o assunto da nossa conversa é o Bolsonaro: votei nele, quatro vezes,e com vontade, e votarei nele outra vez; e se ele não se candidatar, votarei nele de qualquer jeito. E penso: foi bom presidente o homem, muito bom, digam o que disserem os inimigos dele, as gentes da tevê, os intelectuais que o aporrinharam com críticas construtivas sem pé nem cabeça, aqueles comedores de livros! Traças pálidas que não se expõem ao Sol, gentes que vivem enfurnadas nas bibliotecas, que para elas, aqueles ermitões, são cavernas sombrias a federem a mofo e bolor. Aquela gente livresca alimenta-se de traças e ratos. Ratos-de-biblioteca! Queriam ensinar o Capitão a ser presidente. Paspalhos!
- Até aquele tal Olavo, que vivia nos Estados Unidos, homem inteligente, sem dúvida, falou muita besteira a respeito do Mito. Parecia, até, que ele queria mandar mais do que o Bolsonaro. Pior: queria mandar no Bolsonaro.
- Ele fez criticas sérias ao Bolsonaro.
- Sérias, nada! Fórmulas feitas, prontas, saídas do forno. Fórmulas que só funcionam nos livros. Na prática a teoria é outra.
- Mas o Bolsonaro é louco, ou não é?
- Se é, ele não sabe. E quem diz que ele é talvez seja o louco.
- É. E de quatro costados. Doido-de-pedra.
- E agora?
- E agora o quê?
- Ele convocou o povo para a Paulista.
- Convocou, não: convidou. Vai quem quer. Eu vou.
- Vais?
- Vou.
- Tu irás, mesmo?!
- Você vai ir?!
- Vou-me a mim mesmo e comigo carregarei a tiracolo a beleza que Deus me deu. Se das outras vezes fui, por que desta eu não iria?!
- Sois um bolsonarista fanático.
- E orgulhoso de o ser. Se o Capitão mandou ir à Paulista, vou à Paulista. Há, no Brasil, outro político que tenha inspirado aos brasileiros respeito à Pátria, à família, a Deus, às crianças e às mulheres bonitas?! Não. Não há. Digam os espíritos-de-porco o que disserem dele, eu o admiro à beça. As palavras dos maledicentes, e dos maldizentes, e dos ciumentos entram-me por uma orelha e saem-me pela outra. E quem quiser que conte outra.
- Não sei se ele vale o que você diz que ele vale.
- Vale. E mais do que digo que ele vale. Vale! Ah! Se vale! Infelizmente, ele é de uma época, a nossa, de gente medíocre, descompromissada, invejosa, sem brios, ciumenta. Veja aquele tal de Olavo, que...
- Você fala do Olavo de Carvalho?
- Dele mesmo, atrasado. Você chegou atrasado à conversa. É dele que falo, do Guru de Varginha. O homem era inteligente, reconheço; disse coisas muito sensatas, mas durante o governo Bolsonaro falou asneiras a três por dois. Para um homem inteligente, ele disse muita bobagem.
- Quais bobagens ele disse, pode nos dizer?!
- Renove-nos o copo, garçom.
- Posso. E vou. Ele quis ensinar o Capitão, o nosso Capitão, a ser presidente. Num dia o filósofo de Virginia, citando Platão, dizia que para se vencer a elite, que nos oprime, tem-se de se aliar a alguém da elite, pois só gente da elite está preparada para encarar a elite; e não muito depois, dizia que o Bolsonaro, que havia se unido ao Centrão, que é da elite brasileira (se não ao bloco todo, a alguns centristas), e aos militares, que também são da elite, era um besta, ignorante, que não sabia nada, e fez a caveira dele. Ora, o que o Olavo ensinava e o que do Bolsonaro exigia não se conjugavam: ou o Bonoro, para derrotar a elite, unia-se a alguém da elite, assim desunindo-a, ou encarava toda e elite, assim se ferrando.
- Verdade.
- Chefia, o nosso copo esvaziou-se a si mesmo?! Que negligência. Jamais deixe o copo vazio. Jamais.
- E digo outra: uma das frases prediletas do Olavo era: "É urgente ter paciência." E o que ele exigia do Bolsonaro?! Que ele desse com o pé na porta, chutasse o pau da barraca. Qual seria o resultado desta rematada idiotice?! Iria o Bonoro arrebentar o nariz... Nariz de quem? Dele.
- Do Olavo?!
- Não. Dele, mesmo, dele, Bolsonaro. Se teria de agir com paciência, com cautela, não podia o Bonoro pôr banca de todo-poderoso. Vocês se lembram que diziam assim: Você tem dez inimigos; todos eles, unidos, são mais poderosos do que você; você não os pode encarar; então, faça o seguinte: alie-se a nove deles, e vá contra o restante; assim que você e os seus nove inimigos, por ora aliados seus, arrebentarem a cabeça do outro inimigo, que, isolado, não foi páreo para você e os seus nove aliados de conveniência, dê um jeito de conservar a aliança com oito deles; e vocês nove atiram-se contra o que ficou só; e assim que o que ficou só, fraco, portanto incapaz de resistir às investidas do grupo dos nove, cair vencido, vá, conservando a aliança com sete, contra o que restou; e assim, lenta e gradativamente, na velocidade de tartaruga, e com segurança, vá eliminando, um por um,os seus inimigos, tarefa que demanda tempo, muito tempo, décadas, séculos talvez. É possível conciliar esta idéia com a que pede que você derrube a porta de todos os seus inimigos?! É?!
- E por que tu dizes que ele era ciumento?
- Além de ciumento, megalômano.
- Por quê?!
- Ele queria porque queria revolucionar o Brasil.
- Não admitia que o Bolsonaro fosse mais popular do que ele, mais querido do que ele. O Olavo vivia dizendo que ele, Olavo, criara o .movimento da direita conservadora, e coisa, e tal.
- Movimento que morreu nas últimas eleições. Que movimento poderosamente poderoso!
- Criou nada! Gargantão, o guru.
- A eleição do Bolsonaro, sem suporte nas instituições, foi um murro em ponta de faca.
- Será?! Bolsonaro saiu da presidência, mas a presidência não saiu dele.
- Garçom, traz-me a cerveja! E um copo americano.
- Garcinha, tragas-me o balde.
- Tragas a gelada, que eu a trago!
- O Olavo era gente boa. Falou e disse bastantes bobagens, mas era gente boa.
- Chefia, um copo para o nosso amigo, que ora chega para abrilhantar a nossa assembléia.
- Deixemos de lado o filósofo, e falemos do político.
- Qual político?!
- O Mito!
- O Bolsolorde é fera! Cara fora-de-série! Encarou um punhado de gente imunda, e venceu.
- Venceu?! Ele é o vitorioso?! De qual batalha?! De qual guerra?!
- Ele pode ser preso.
- Num hospício, certamente. O sujeito é louco. Um desmiolado de primeira.
- Você mudou de time?!
- Sou corinthiano de nascença. Sofredor até a morte. O Timão 'tá no sangue.
- Por que usas camisa cor-de-rosa?!
- Você é daltônico?! Esta camisa é vermelha.
- Garçom, o tira-gosto!
- Cadê o espetinho que eu pedi?!
- A cerveja, garcinha! A cerveja!
- Garcinha! Que gracinha!
- Vá se danar, cretino!
- E esses cachinhos dourados?! Que lindos!
- E a azeitona?!
- Plantai uma parreira, e colhei azeitonas!
- A azeitona fugiu!
- O Bolsonaro, o nosso capitão Bolso Kid, é maluco de berço. Se será preso... Eis a questão. Fosse eu o Shakespeare...
- Mas não é.
- Há quem diga que o Bonoro não deveria se manifestar, no dia... no domingo. Que dia?! Sei lá. Se ele se manifestar, dará de bandeja àqueles que o querem ver o Sol nascer quadrado o pretexto para prendê-lo.
- Prender o Sol?! Que culpa tem ele pelo aquecimento global, que ocorre, dizem, porque...
- Prender o Mito! Há quem queira prender o Bolsonaro. Se ele se manifestar, será preso, irremediavelmente preso, pois a manifestação pública dele será, há quem diga, vista como uma provocação, um acinte à justiça brasileira.
- É crime manifestar-se publicamente?! É crime?! Quem deseja vê-lo preso quer trancafiados todos os bolsonaristas a sete chaves, num presídio de segurança máxima que seja de máxima segurança, e não num desses de cujos domínios sombrios de vez em quando e sempre criminosos fogem pela porta da frente. Todos os bolsonaristas, hoje, presos; amanhã, não havendo mais bolsonaristas soltos, a caminharem tranquilamente pelas ruas do Brasil, todas as pessoas que se atreverem a contestar o que dizem da história os donos do poder e a contrariar os interesses deles.
- Se provarem que tem o Bolsonaro culpa no cartório, serei o primeiro a pedir-lhe a prisão. Ora, o que vale para o Zé vale para o José, o que vale para o Chico vale para o Francisco, o que vale para o Tião vale para o Sebastião, o que vale para o Tónho vale para o Antônio. Se perante a lei toda pessoa é inocente até prova em contrário, então toda pessoa é inocente até prova em contrário. Se toda pessoa tem direito à ampla defesa, então toda pessoa tem direito à ampla defesa. Não se suspende as garantias legais deste e daquele personagem porque com ele não se simpatiza. Se é o Capitão culpado, que pague pelos seus crimes; se não é, não tem o que pagar por crimes que, não sendo deles, lhe imputam.
- Se o Mito é louco, o Laranjão também é. Souberam vocês o que está a se dar com ele na terra dos caubóis?! É de doer! Condenaram-lo a pagar não sei quantos milhões de Reais para uma rameira...
- Reais, ou Dólares?
- Reais dolarizados.
- Dólares realizados.
- Dólares! Dólares, que é dinheiro que vale. E depois condenaram-lo a desembolsar mais uns trezentos milhões de Dólares.
- Quanto dá tudo isso em Reais?!
- Uns dois bilhões, ou um pouco menos.
- Dinheiro que não acaba mais.
- E é justiça o que se faz na terra do Washington e o que se faz na terra do Dom Pedro?
- Conheceis a fábula do lobo e do cordeiro, ambos a beberem da água de um riacho?
- Contai-a, Xerazado.
- O lobo e o cordeiro bebem da água, que da nascente do riacho passa, primeiro, pelo lobo, depois, um pouco abaixo, pelo cordeiro. O lobo diz para o cordeiro: "Tu estás a sujar a minha água." E o cordeiro replica: "Poderia eu, senhor, sujar vossa água se ela passar por vós e depois por mim?" Enfezou-se o lobo: "Tu me ofendeste há dois verões!" E retrucou o cordeiro: "Poderia eu, senhor lobo, ofender-vos se nasci no verão passado?" Enfureceu-se o lobo, que, rilhando os dentes, rosnou: "Se não foste tu, então foste teu irmão!" E o inocente cordeiro disse-lhe: "Mas, senhor lobo, se não tenho ir..." Não pôde o cordeiro concluir a frase: devorou-o o lobo.
- Trágico, senhor Omar. Trágico.
- Boa história. É do Esopo?
- Dos irmãos Grimm?
- Não. É do La Fontaine.
- Lobo quando quer devorar o cordeiro, devora-o.
- Se não tem porquê,inventa-o. Se o Bonoro falar, na Paulista, o que lhe der na telha, infamá-lo-ão anti-democrático, golpista. Se ele nada mais fizer do que contar uma história do tempo do onça, daquelas comuns nos antigos almanaques, um conto da Cinderela, ou dos Três Porquinhos, ou uma do Saci-Pererê, ou um causo caipira do interior de São Paulo, chamá-lo-ão golpista, anti-democrático. Se ele ficar na casa dele, a assistir uma série-de-televisão, xingá-lo-ão de tudo quanto é nome. Ora, o lobo...
- O Bolsonaro jamais matou uma girafa amazônica, e dizem que ele dizimou tal espécie de criatura onírica. Há... Pôxa! Querem que Bolsonaro faça o que, afinal?! Querem condená-lo à cadeira elétrica porque, dizem por aí, ele importunou uma baleia jubarte! Pasmem!
- O Capitão é louco. Da família do Quixote.
- Se é!
- Cadê a gelada, garcinha?! Beberam a que estava nesta garrafa.
- "Beberam", né, pinguço?! Você, não.
- Torço a pescoçuda até arrancar-lhe a última gota. Não gosto de desperdícios.
- Quantas pessoas esfaquearam o Mito pelas costas?! Quantas?! Foram tantas, que perdi as contas.
- Hoje: nosso time: quatro; time da várzea: zero.
- Nosso time na cabeça! De goleada! Sete a um, para humilhar a várzea.
- Dá-lhe, porco!
- Uma vez Flamengo, sempre Flamengo!
- Sofredor até morrer!
- É Tricolor Paulista!
- Precisamos do Pelé!
- E do Garrincha!
- Muitos dos aliados dele eram...
- Dele quem?!
- Do Capitão. 'tá dormindo, sãopaulino?! Muitos aliados do Mito eram de ocasião. Colaram cada qual seu nome ao dele, desta associação se avantajaram, e depois quiseram lhe puxar o tapete, e caíram do cavalo. Pensaram que eram o tal, e revelaram-se reles traidores.
- O Biroliro é exímio caçador de traíras.
- E aquele tal filósofo que, sem experiência política, queria governar o Brasil usando o Bolsonaro de empregado doméstico?! Ora, o Capita ofereceu-lhe o ministério da educação, e ele...
- Esqueça-o. Importante é o Mito.
- Sei, não... Será que Bolsonaro está nos enganando?! Às vezes vejo-me a me perguntar se ele não está mancomunado com aqueles que ele confronta, aqueles que, acreditamos, são os inimigos dele...
- Tu te vê, olhando-te no espelho, perguntando-te a ti mesmo se o Bolsonaro não é o que acreditamos que ele seja?! Então, pergunta para o teu reflexo no espelho o que ele pensa. E o teu reflexo no espelho é tão feio quanto tu?! Cá entre nós, amigão: O Mito é o Mito. Não há outro igual.
- Temos de tirar essa história a limpo.
- Temos. E é para ontem.
- Temos de tirar a limpo essa história. Chamem o Sherlock.
- Xerox pra quê?!
- Sherlock, pamonha! O detetive. Talvez o Bonoro seja do outro time desde sempre, ou trocou de camisa por que...
- Deixa de teorias da conspiração, rapaz!
- Muitas teorias da conspiração não são teorias, e da conspiração tampuco.
- Não há outro homem tão louco quanto o Bonoro. Ele é doido-de-pedra.
- Sei não se ele não está a representar um papel... Se ele está a nos manipular...
- Temos de tirar essa história a limpo.
- Ele é um político, e não um santo. Santo é o outro, o camareiro do casal presidencial. Santo do pau oco. O Bonoro tem de fazer o jogo dele; ele tem de jogar o jogo. Não há o que admirar, ora bolas!
- Resta saber se ele está jogando bem. Quais cartas ele tem?
- Cartas?! Mas se ele joga xadrez tridimensional! Tem peças: rainhas, reis, bispos, cavalos, torres, peões, espadachins, mosqueteiros, navegadores, gladiadores, espingardeiros, agricultores, sapadores, cientistas, engenheiros, carcereiros, e mais um punhado de gente a seu serviço. Que ele saiba jogar o jogo.
- Mas... E aquela história...
- Que história?
- A da apuração dos votos? O Bolsonaro não a explicou para nós.
- E nem vai. Ele não é doido.
- Devia explicar. Agora que ele não é presidente...
- ... é que ele nada irá falar a respeito. Escutai: O Bolsonaro não é o presidente do Brasil, mas é um personagem político, extraordinariamente popular, apesar dos pesares, capaz de mexer com as emoções de todo mundo. Não há o que discutir: ele é um ator político, talvez o mais importante do Brasil. Há quem diga que ele é aquele que dá a cara aos tapas e que os políticos importantes estão nos bastidores. Não sei o que é verdade e o que é mentira, neste caso, pois desconheço os que estão nos bastidores, e tampouco sei se o que dizem deles é ou lenda, ou fato, ou conversa para boi dormir. "Fulano mexe os pauzinhos, nos bastidores.", dizem. Verdade?! Mentira?! Sei lá! Enquanto agente político de grande expressão tem o Bolsonaro uma responsabilidade, que desconheço. Então, penso, ele diz o que acredita que tem de dizer e não diz o que entende merece ser conservado com ele.
- Mas ele é louco, reconheças. Ser presidente de um país degradado durante décadas... E ele acredita que o brasileiro respeita o João Oito Vinte e Dois. Brasileiro... Brasileiro típico gosta de tirar vantagem, do jeitinho, de puxar o tapete do irmão, furar o olho do amigo, tirar vantagem em tudo, mesmo que tenha de vender a mãe ao capeta.
- Não sejas tão leviano.
- Leviano?! Leviano?! A azeitona! Cadê o cubo de queijo?! Ô, mané, não seja corinthiano. Deixe o prato ao alcance de minhas mãos. Você vai comer tudo, draga?! O seu buxo já está cheio. Ponha mais um ovo de codorna dentro dele, que estoura. Leviano?! Que nada!
- Mas houve fraude?!
- Temos de tirar essa história a limpo.
- Fraude?! Que fraude?! Da sua família quantas pessoas votaram no Bolsonaro?
- Umas dez. Minha família tem umas quarenta pessoas. Dez, tenho certeza, votaram no Capitão. No Lula, umas quinze. As outras não se deram ao trabalho de irem votar.
- Lá em casa... Meus pais, meus irmãos, tios, primos... Minha família é numerosa. Das oitenta pessoas, umas trinta votaram no Lula, e vinte, talvez vinte e cinco, no Bolsonaro.
- Dos meus vinte parentes, uns dez votaram no Lula; o Bolsonaro, acho, ganhou outro tanto de votos.
- Na minha casa, todos votamos no Capitão. Minha esposa, minhas duas filhas, meu filho, meus genros... Um destes votou no Lula... E a minha nora... Sei lá. Na minha família ficaram pau a pau o Bolsonaro e o Lula. Mano a mano.
- Na minha numerosa família... O quão numerosa não sei. Meus avós, pais de meu pai, puseram no mundo quinze criaturas horrendas. E os pais de minha mãe, doze, todas horripilantes. Por aí se vê. Tem a família umas duzentas pessoas. O meu irmão mais velho, oito filhos; eu, seis; minha irmã, cinco... Dá uns duzentos supostamente humanos os seres da minha família. Tirando os que não 'tão nem aí para a política, uns cinquenta votaram no Capita, e no Lula uns sessenta, cinquenta e cinco. Acho que houve um equilíbrio, meio a meio. Cinquenta a cinquenta.
- Sei, não. Mas acho, só acho, que o Bolsonaro se surpreendeu com o resultado da apuração.
- Mas, e aquele gráfico...
- Efeito especial de Hollywood. Nada mais.
- Chega chegando, santista. Puxe uma cadeira, e sente-se no chão.
- Chegou o melhor nosso.
- É o fera.
- Traga outra gelada, garçom.
- Não se atrase, garcinha. Que gracinha!
- Vá se danar, pouca sombra.
- Pintor de rodapé, hoje tu estás abusado.
- Sempre foi anarquiado. Desde pequeno.
- O pescador-de-aquário ainda é pequeno.
- Atrevido que só ele.
- Mas, não há um consenso...
- Consenso?! Por que precisamos de um?!
- Pra que serve esse troço?!
- Engorda?!
- Dá frieira?!
- Consenso a respeito de quê?!
- Do Bolsonaro.
- Que que tem o Biroliro?!
- Ele é louco, ou não é?
- Afinal, qual é a dele?
- A mulher dele?! Ora, é a...
- Qual é o papel dele na história do Brasil? O que ele pretende com as ações dele?! Para o que ele veio?! Ele veio para arrebentar a boca do balão, ou para expôr a podridão brasileira, ou para ludibriar os brasileiros, ou para mostrar aos brasileiros que eles viviam num mundo fantasioso, ou para inspirar aos brasileiros sentimentos nobres, ou... Sei lá eu mais o que ele talvez esteja a fazer. Sei lá.
- O Mito parece aquele moleque anarquiado.
- O Malazartes.
- Anjinho de rabo e chifres, diria a saudosa vó Maria.
- Véinha arretada!
- Fazia um tutu de dar água na boca.
- É uma novela interminável a política brasileira, e um dos seus personagens é o Capitão. No meu entender é o papel dele o do herói.
- Será?!
- Chefia, outra gelada!
- Duas!
- Garçom, o espetinho!
- Qual é a do Bolsonaro?!
- Está na hora do Capitão pendurar as chuteiras.
- Ele devia evitar fadigas. Os brasileiros que se lasquem!
- Sois brasileiro, palmeirense.
- A do Mito é a dele. Não sei qual é a dele. Mas por ele eu ponho a minha mão no fogo. Nele podemos confiar.
- Será?!
- Podemos. Podemos.
- Garçom, aumenta o som. O juiz apita!
- Dia vinte e cinco 'tá'í.
- Nosso time, sete; várzea, um!
- Será?!
- Seja o que Deus quiser!