O GALO ASSASSINADO
Às 13 horas de um domingo, estava eu coçando o saco, quando tocou o celular numa chamada de vídeo a cobrar. Era meu amigo Pedro Eugênio, direto lá da Serra do Araripe, chorando copiosamente.
- Querido amigo, meu estimado e pacato galo foi covardemente assassinado - desabafou.
Tomei aquele susto e fiquei indagando quem diabo poderia matar um inofensivo galo? O amigo Pedro, adivinhando meus pensamentos, logo emendou:
- Quem matou meu galo foi um galo desalmado.
- Qual era o nome do seu galo, meu querido Pedro? - Perguntei a ele.
- Meu galo se chamava galo, por quê?
- Por nada, meu amigo. Simplesmente achei que um galo de estimação teria um nome, ou pelo menos um apelido carinhoso.
- Pois não tinha nome, meu galo se chamava galo e ponto final - disse, irritado, e completou: - Meu galo já era um galo idoso, aposentado, não bulia mais com as galinhas, mas não era um galo qualquer, até cantava em inglês, pois o timbre de voz era igualzinho a do saudoso Michael Jackson. O galo assassino por insegurança e cheio de inveja e cíúmes, matou meu lindo e indefeso galo.
Foi quando notei pelo vídeo meu amigo Pedro Eugênio visivelmente abatido, naqule choro incontido, com um copo de cerveja na mão e um prato de baião de dois na outra. Achei a cena inusitada, meu amigo Pedro bebendo, comendo desesperamente e chorando, tudo isso simultaneamente.
Acreditando ser um abalo psicológico, um desarranjo emocional do amigo com a tragédia ocorrida - afinal, tratava-se da morte de um galo de estimação! -, busquei mudar de assunto.
Abismado com o prato descomunal de comida que ele degustava, perguntei sem pestanejar: - Qual é o prato do dia, meu amigo Pedro?
Ele secamente respondeu:
- Assei meu galo e estou comendo ele com cerveja, você é cego?
E, em seguida desligou o celular na minha cara.
Autor: Benedito Morais de Carvalho (Benê)
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