UM CARNAVAL HÁ 53 ANOS
Neste Primeiro dia de Carnaval, ofereço, a todos um velho texto que relata uma noite de carnaval que mudou a minha vida....
UM CARNAVAL, NO CLUBE APOLO, HÁ 53 ANOS.
Em 1971 eu já estava trabalhando, há 3 meses, no Banco da Amazônia e morava, na PENSÃO FLECK, do Beto e da Reni, que ficava na Andrade Neves 121, em Porto Alegre.
Quando chegou, em fevereiro o Carnaval, me mandei para Rosário do Sul para aproveitar o feriado prolongado e matar a saudade do Bar do Osvaldo e de minha turma de amigos e de minha família.
Chegando, em Rosário, na sexta feira a meia noite, fui para casa abraçar meus pais e meus irmãos!
No sábado lá pelas 10 horas rumei para o Bar do Osvaldo onde encontrei o Roberto Fonseca, o Beto Treme terra, o Luiz Carlos e o Paulo Roberto Carbonell, que já tinham assinado o ponto e aberto os trabalhos.
Em longos abraços matamos a saudade e, eu peguei uma cadeira e sentei-me, à mesa junto com os demais.
O assunto, em pauta, era decidir se, na noite daquele sábado, iriamos fazer carnaval em Rosário ou em Cacequi.
A votação estava empatada e com meu voto decidimos fazer uma aventura e passar aquela noite em Cacequi, participando do carnaval no Clube Apolo que, por ser dos Ferroviários, era menos elitista e, com certeza, nos deixariam entrar.
As nossas figuras, não seria bem recebidas, no Comercial ou no Caixeiral.
E assim fomos! Em lá chegando apresentamos nossos documentos e fizemos um histórico de quem éramos e a que famílias pertencíamos e, quando vimos, estávamos no salão mais animado do mundo onde uma banda tocava sambas e marchinhas de carnaval daquela época luminosa de nossa história musical...
Ficamos parados na beira da pista de dança a espera de que passasse alguma guria e com um olhar, nos convidasse a entrar nos cordões que, alegres e felizes, faziam a sua festa.
Eu era o mais baixinho de todos nós e, talvez, por isto uma menina de estatura baixa, com a face muito clara, olhos pretos, cabelos longos e encaracolados, com um sorriso lindo no rosto ao passar por mim, dirigiu-me um olhar que me animou a entrar na pista e acompanhá-la na folia...
Ao me aproximar daquela menina tive a estranha sensação que a conhecia, de há muitos anos e, por um estranho mistério, a música tocada e cantada por todos que era - Máscara Negra do inesquecível Zé Keti- traduzia os meus sentimentos e minhas emoções sentidas a partir do momento em que peguei a sua mão.
Me esqueci da Gurizada que, com certeza, já tinha também entrado na folia, e brinquei a noite toda com a Ana Maria, como se chamava a guria que, passou em poucos minutos a ser o objeto de minha paixão.
No dia seguinte fui à sua casa, conheci seu pai, sua mãe, seu irmão e sua vó que morava com eles e que ao me cumprimentar-me deu o melhor abraço do mundo...
Fui embora para Rosário com o coração partido pois eu queria ficar.
Passamos a nos corresponder por carta um ano depois noivamos e em 1977, no dia 24.09, nos casamos.
Demoramos 7 anos para casar porque eu, naquele tempo, era boêmio e não queria me amarrar...
Ficamos junto de 1977 a 2020, pelo período de 43 anos durante os quais fomos eternos namorados.
De nosso amor nasceram, os filhos Magda, André e Paulo.
O André Casou com a Juliane e nos deu a Rafaela e o Paulo casou com Vanessa e nos deu o Arthur e o Davi.
Fomos felizes...muito felizes!
Até que, sem avisar, em 3 de novembro de 2020 a Ana Maria partiu desta vida. Deixando enorme saudade para seus filhos, para suas inúmeras amigas e partindo meu coração o qual, nunca mais consegui consertar...
Este texto ficaria incompleto se não contivesse a singela poesia abaixo que fiz, para ela enquanto bebíamos uma cerveja gelada no Bar Walter em Porto Alegre, cujo final é, misteriosamente, profético...
VISITA
(Porto Alegre, 24.09.77)
Chegastes em minha vida,
como uma brisa mansa
após um temporal pampiano
e desde então minhas manhãs são claras,
meus dias têm muitos sóis
e minhas tardes se tingem de mil cores
para saudar os meus crepúsculos.
As minhas noites sempre têm luas
daquelas que por tão claras e
por tão lindas, nos prendem o olhar aos céus
e nos permitem ver, na terra, o balançar dos pastos.
E tens permanecido, assim como minha luz,
a me apontar caminhos e a me afastar das sombras,
como um farol a orientar os nautas.
ou como um sinal secreto a me mostrar os rumos,
como uma bússola a me apontar o Norte,
ou como um raro amigo a me ofertar a mão.
E sei, que por fatal destino,
um dia eu me apartarei de ti.
Por tu partires ou por eu partir.
mas haverá de ficar entre nós dois,
um livro aberto para contar a história.
A tua história, na qual fui personagem,
vassalo, ou servidor, talvez teu pajem
e a minha história na qual tu foste rainha.
( Recanto da Ana e do Erner -Capão Novo- 10/02/2024)