"POPATAPATAIO"
Na periferia do interior. Ruas de terra, ruas de lama, ruas cavadas à unha. Sons de insetos, pássaros, um ou outro pangaré. Meu carro, estranho no ambiente, rasga aquele silêncio mortal, à procura da festa de Nossa Senhora. Famoso evento que só eu mesmo conhecia.
Nem mesmo o pessoal do centro de Deusdará conhecia bem a vila de Nossa Senhora do Cuió.
Foi difícil chegar. O carro atolou duas vezes.
Parei em um armazém para fazer um primeiro contato imediato com o povo. Pensei: Vou tomar um pinga, elogiar a qualidade, comprar um queijo ou algo parecido, para agradar, puxar conversa, sei lá.
O marciano me encarou, mediu, fez cara de desconfiança.
-Tem uma branquinha da casa?
-Tem. Vai pagar como?
-Aceita cartão?
-Cartão? Que cartão? Aceito dinheiro, sô! –Resmungou.
Para piorar, na carteira tinha uma nota de cem. Ele olhou a nota, virou, desvirou. Olhou para minha cara, saiu do armazém, olhou meu carro, coçou a cabeça.
-Quero ver documento e me dá um número de telefone.
Anotou tudo, inclusive a chapa do carro.
Não quis conversa.
-O senhor veio para a festa?
-Sim. – Agora eu é que não queria mais papo. Peguei a garrafa de pinga, por sinal, horrível e vim-me embora. Nesse momento um camarada, apressado, assustado, grita desesperadamente para o “marciano do armazém”:
-Popatapataio, popatapataio!
Ele, prontamente, entrega o embrulho. O cara sai correndo.
Não agüentei. Voltei para o armazém.
-Desculpe-me, senhor. O que aquele senhor queria, tão aflito?
-Popatapataio.
-Para que serve?
-Oras, PÓ PA TAPA TAIO. O senhor nunca tomou nenhum taio,não?