Eu não quero ser a minha prioridade.
A minha vida não estaria resolvida com um corpo magro, tampouco com um milhão de reais. Os meus problemas são reais em minha existência, mas nem sempre físicos.
Se deito por horas e não consigo dormir, estarei pensando nas coisas que não posso mudar sozinho, como as injustiças criadas pelo ser humano, ou na destruição e morte trazida pelo nosso conforto como sociedade.
Reluto em dizer a quem questiona se o que me tira o sono é o descaso com a natureza, e minto sobre ter uma dívida qualquer que não posso pagar. A vida perdeu tanto o sentido filosófico que o simples ato de se preocupar com o macro gera estranheza.
Eu penso nas obras de arte perdidas, em todos os filmes que nunca verei, nos animais abandonados, na natureza sendo destruída, na vida fora da Terra que pode ou não existir, no buraco da camada de ozônio, no significado de amar, e no desperdício de juventude que é estar em um lugar que não faz sentido a nós.
Eu não quero atender telefones e alimentar planilhas, muito menos conseguir novos clientes para o portfólio da empresa, mas sim pensar sobre a nossa existência, salvar animais da extinção, divagar sobre o nosso lugar no universo, e amar sem medo da segunda-feira.
Eu quero ter o direito de me preocupar com o que não sou, e mesmo assim ser respeitado. Eu quero não ser a prioridade da minha vida, nem que seja por um dia.