Pau que bate em Chico...

       

     No dia 03/10, assisti a trechos do depoimento de um empresário mato-grossense à CPMI do Oito de Janeiro. É acusado de ser um dos financiadores do fracassado golpe de estado que daria a estocada final bem no coração do Brasil.

     Lembrei-me imediatamente do que aconteceu a Nelson Rodrigues e seu filho, o Nelsinho. O pai, cronista do futebol e autor de Toda Nudez será Castigada, Vestido de Noiva, Bonitinha mas Ordinária e outras peças inesquecíveis do teatro brasileiro, apoiou o golpe militar de 1964. Negava que houvesse tortura nos quartéis, até que seu filho, na oposição clandestina, fosse preso e torturado. Pau que bate em Chico também bate em Francisco.

      Nelson, o pai, não seria um linha dura, segundo o próprio Nelsinho.  Era apenas um conservador e não um fascista. Nelsinho, como o pai, louco por futebol e pelo Fluminense Futebol Clube, talvez seja até mais conhecido pela enorme barba que cultiva há décadas que por ser filho de um famoso. Aliás, a influência do pai é notória em tudo que Nelsinho faz: jornalista, dramaturgo, ator, roteirista, romancista e produtor cinematográfico.

     Voltando ao presente, não tenho certeza se esses apoiadores da tentativa de golpe de estado sabiam realmente em que estavam se metendo. A lobotomia cerebral tomou conta de parte  do país. Se estavam cientes dos riscos, é possível que a História não seja tão eficiente em demonstrar a todos o perigo das ditaduras. Como teria dito Rui Barbosa, "a pior democracia é melhor do que qualquer ditadura". Se foi ele que disse, tinha toda a razão.

     É bem didático o drama da família Rodrigues. Numa ditadura, eliminam-se um a um os contrários, a fila anda e o poder se alterna, sim, mas por traições e violência, golpes dentro dos golpes. Nesse contexto, o jogo muda e, sem garantias, todos estão frágeis. Qualquer um é inimigo.

     Na sequência, sem as garantias constitucionais, começam as perseguições.  Como aconteceu no passado recente, um de seus filhos ou sobrinhos poderia passar à oposição, senhor Depoente/Financiador. Entre outras atrocidades, poderiam ser executados e seus corpos atirados nas águas do Atlântico. Queima de arquivo. 

     Já ouviu falar da Operação Condor? Informe-se, pois pau que bate em Chico também bate em Francisco.