A IDOSA INDEPENDENTE

Ula acordou cedinho e saiu, em jejum, para fazer exame de sangue.

O laboratório estava cheio de pessoas da terceira e até da quarta idade. A maioria estava desacompanhada.

A jovem senhora chegou e pegou a senha 91.

-Moça, este número é 06?

-Não, senhora. Ele está de cabeça para baixo. É o número 90. A senhora será atendida na minha frente.

-Obrigadinho, sim? Você é muito boazinha!

A atendente chamou:

-Senha 90!

Minutos depois...

-Quem está com a senha 90?

-É a senhora, que ela estão chamando!

-É mesmo?! Não ouvi! Você é uma menina de ouro!

Ei, mocinha! Sou eu! Você está boa?

-Estou, sim, graças a Deus! A senhora toma algum medicamento?

-O quê?

-Me-di-ca-men-to! A senhora toma algum tipo?

-Não, minha filha, só tomo três remédios!

-Quais são eles?

-Quem? Fala mais alto!

-Qual o nome dos remédios que a senhora toma?

-Ah, minha filha, sei lá!

-Senha 91!

Ula se dirigiu ao balcão e disse para a atendente:

-Não sei como podem deixar esses velhos saírem de casa, sozinhos! Eu fico preocupada! Alguém deveria vir com eles, você não acha?

-Claro que acho! Mas alguns não gostam de companhia! Às vezes, os parentes ficam vigiando de longe! Sabia que eles querem ser independentes? Ontem, mesmo, um vovôzinho trouxe uma garrafa pet cheinha de xixi e, na semana passada, uma senhorinha chegou aqui com uma marmitex abarrotada de fezes!