C o r é i a
TODOS os dias cumpriram ritual: fico num cantinho assuntando a maçaranduba do tempo, lembrando o passado, aquele tempo que o samba disse que a gente era feliz e não sabia.
Dentre as minhas recordações, uma é recorrente: aqueles locais e aquelas mulheres que as beatas e beatos amaldiçoavam: os locais onde viviam as mulheres que a chamada moral tradicional chamava de perdidas, raparigas, quengas e putas. Ou “mulheres da vida fácil”. Que ironia cruel.
Nunca esses moralistas do pau oco e essas virtuosas de narré-marré tentaram entender o porquê daquelas mulheres terem chegado àquela degradação. As puritanas e puritanos de araque eram infensos à piedade, mesmo vivendo socados em igrejas.
Daquele tempo, além de nunca ter censurado e nem desrespeitado aquelas mulheres, lembro que chamavam os locais que elas viviam de puteiro, pinga-pus, zona, fuá e,creiam, Coréia. Por que Coréia? Porque no tempo da guerra naquele país, quiseram mandar soldados do Brasil para ajudar os americanos a massacrar os coreanos. Então começou uma campanha contra essa medida. Pichavam muros com a expressão: “Nenhum Jovem para a Coréia”. Então picharam uma das paredes de um dos locais onde viviam essas mulheres. Resultado as beatas ficaram apelidando o arruado das mulheres de Coréia. Pegou. Só mudou para cabaré quando construíram no local uma espécie de clube com um anexos de quartinhos, e deram o nome de Itapoã. Foi em Arcoverde.
Lembro aquele tempo. Com saudade. Nunca julguei e nem desrespeitei nenhuma daquelas mulheres. William Porto. Inté.