Sem divagações: direto ao ponto
Até agora, acho que me alonguei demais. Aliás, talvez uma de minhas maiores dificuldades é não divagar.
Mas tendo a me questionar se é possível efetivamente pensar sem ser isso em si, uma divagação. Tento me explicar: ao se falar de alguma coisa, respeito meu interlocutor como um pensante, por óbvio.
Como poderia querer falar de uma mesma coisa de modo unívoco? É chato… olha, ninguém aguenta ouvir a mesma pessoa falar das mesmas coisas sempre. Costuma virar figurinha carimbada. “— Ah… fulana vem? Ihhhh. Vai ficar reclamando disso e daquilo. Toda vez a mesma coisa.”
Vai dizer que não? Sou declaradamente agremiado ao Unidos da Divagação. Pensar é enlouquecidamente uma coisa gostosa; uma empadinha de camarão com uma cervejinha gelada. É sério, nada simples, mas singelo e gostoso.
Divagar, visto como fraqueza ou falha, só pode ser possível quando se cronometra os assuntos, num jogo mental de caça-palavras ao estilo narração de futebol ouvido no rádio. Claro que a boa conversa é como um sambinha: cadenciado com seus altos e baixos. Mas o ritmo ainda que alternado, ainda é samba.
Já contei que “a grande utopia do homem é achar um ouvinte”? Nelson já falava disso. Inclusive, a frase é dele. Mas a cada conversa por aí, mais se quer falar que ouvir. Mas ao mesmo tempo, a via de falar anda tendo seus pedágios. Sussurrar divagações, pensamentos, está cabendo não só na pecha de viajante, mas de perigo.
Talvez divagar seja ruim, porque as respostas prontas não tenham tanta serventia. Imagine ter que pensar para responder honestamente algum assunto? Temo o dia em que falar das coisas que todos pensam, seja advertido em andar com camisas com a respectiva tarja na camisa, na altura do peito.
Advertências do tipo: “O uso contínuo de leitura ou diálogo com esta pessoa, pode causar reflexões”, quem sabe? Quem sabe resta ler, ao menos temos uma conversa franca no mundo das ficções, lugar em que os perfeitos não existem nem no Era uma vez.
Ou quem sabe, chegar o dia que nem sei se em orações seja possível confessar os próprios pecados. Agora encerro minha divagação, já que não sei pensar em linha reta; pensar bonito, adequadamente. Vai que as ideias causem alguém a querer também a divagar? Que perigo!