FUTEBOL EM UM DE TRÊS

Em 1965 aos 10 anos ganhei a primeira bola, era de borracha, assim um bolaço com ela rendia um vermelhão acompanhado de dor intensa, o vermelhão migrava ao roxo. Embora morássemos m pouco antes do final do mundo, havia dois times da várzea, o União e o São Pedro, nome da vila e da rua principal que acabava nas portas do final do mundo e início do parque Saint Hilaire!

Meus primeiros chutes aos 9 anos foram no campinho de 10 X 15 m, num terreno baldio ao lado da casa que morávamos. Ao contrário do campo do União o meu era plano. Estudávamos pelas manhãs e a tarde depois dos temas jogávamos até o anoitecer, eu, o Tourinho (Vanderlei) e seus dois irmãos pouco mais novos que nós, só parávamos quando o Sol se punha. Quando a bola de borracha chegou começaram as rusgas, pois o Tourinho adorava nos acertar. Antes disto a bola era de pano, meias e carpins. Nos dias com chuva observei que a bola tomava o formato geoide lateralmente, diferentemente do que vemos nas representações da Terra. Quando rasteira espirrava água para o alto numa parábola para trás. Assim comecei a experimentar chutes com efeito para um lado e outro, que eram acompanhados pelo rastro da água, assim, mesmo que tardiamente enveredasse ao futebol, consegui entender e desenvolver a técnica de chutar a bola numa direção e ela mudar a trajetória enganando o adversário. Das rusgas passamos a correr atrás da bola no campo do União, onde três crianças correspondiam a um adulto, na correria dos finais de tarde.

Mamãe depois de muita argumentação consentiu-me participar da correria, mas deveria estar em casa assim que o Sol estivesse na altura da metade do eucalipto que ficava atrás da goleira.

Ali os experimentos não eram permitidos, pois os pequenos deveriam somente cobrar laterais, atacar os adversários como carrapatos e se tivessem com a bola ela deveria ser passada rapidamente para um adulto.

Esta correria só nos dava pernas e o ensinamento do que era uma meia lua, uma janelinha, uma ponte do goleiro e tudo mais.

Durante a copa de 1966 voltamos ao nosso campinho, pois conseguimos uma bola de couro. Montá-la foi muito difícil, mas rendeu-me um aprendizado de como eram feitas. Seu Bolão, um policial obeso, aliás, bem obeso e por isto estava em tratamento de saúde afastado do trabalho, assim montava bolas para uma empresa. Os gomos já vinham cortados e com os furos marcados. Reforçados os furos ele costurava com duas agulhas e cordão encerado, colocava a câmara e enchia para testar. Um dia seu Bolão foi até a cerca onde era o nosso campinho e nos propôs para reforçarmos os gomos e ele nos daria os que estivessem com pequenos defeitos, então em duas semanas tínhamos os gomos necessários, mas faltava a câmara, que ele nos deu com um tremendo rasgão, colávamos e ela descolava, até que colocamos um remendo por dentro da câmera e depois de seco outro por fora, resolvido, pois não descolou mais. Todas as vezes que eu desmanchava a costura e refazia, mais eu aprendia. As agulhas se cruzavam num mesmo furo, bem puxadas e assim repetia-se a costura até o final.

Mesmo oval foi a nossa primeira bola de couro que teve vida longa!

ItamarCastro
Enviado por ItamarCastro em 22/08/2023
Reeditado em 22/08/2023
Código do texto: T7868012
Classificação de conteúdo: seguro