PSIQUÉ

Espero escrever ao vento, fazer algum tipo de oração que me soe verdadeira, tão verdadeira a ponto de ser desconfortável. Essa pungência que me fere é um atentado ao meu ego; ah como sei disso. Quantas vezes eu busquei entrar em minhas próprias intensidades internas e coadunar meu olhar com o meu agir externo. Furtivamente entendi o adocicado poder da minha fraqueza, quando por ventura, entre paredes de concreto e opacidades poéticas, desabrochei entre meus dedos letras mágicas, orações não ditas.

Continuamente contento-me com as incertezas dos domingos, tão apáticos quanto imagens de gesso que fingem me vigiar. Bem, espero poder tocar alguém sem ousar colocar as minhas mãos. Que palavras bastem para exprimir todas as minhas atitudes enquanto repousou-me sob minha indulgência ociosa. É preciso obter do ócio a criatividade, escrever cada letra semelhante a despir nosso corpo das vestimentas que nos adorna. A poesia renasce de nós através das dores, dos dizeres mais profanos, dos pensamentos mais lúgubres e das tentativas mais frustradas. Foi errando que acertei, tenho em mente esse mantra.

Como dói ter que exigir respeito, deixar explícito o que deveria ser por obrigação acordado por ambas as partes. Estabelecer limites é essencial, fazê-los é a tarefa hercúlea. Não é por alguma falta de vontade, eu diria, mas, o comodismo que se deita entre duas pessoas que se relacionam e de alguma forma interpõe as vontades. Muitos de nós só percebe a dor do rompimento após o estrago já alocado em nossa jugular. Ainda assim, temo não ser capaz de proferir todas as minhas angústias, expressar todo o meu descontentamento, sem que isso arranque um pedaço maciço de minha pele, e leve com ela, pedaços de minha carne.

Queria mesmo era não entender determinadas sutilezas, maldades encarceradas atrás de vozes que emitem elogios. Porém, entendo. Sinto que em algum momento nascia flores nos jardins de minha consciência, e eu apenas enxerguei confusão. Estava confuso, perdido em devaneios, pensamentos sufocantes. Privilegiadas são as pessoas que pouco pensam, pouco sentem, pouco expõe de si. Melhor ainda, privilegiadas são as pessoas que não precisariam exigir alguma coisa. Não é algum mero lamento, eu diria. Talvez um desabafo. E serei mais humano a cada queda, certo de que os impactos sofridos me farão flecha.

Fechei este ciclo da pior forma possível: Com arestas a serem aparadas. Tempestuosas sensações devastaram-me demasiadamente. A minha maior vingança está sendo a certeza de que não temos nada nas mãos, então, quem me perde não me tem de volta, nem sequer para explicar alguma coisa. Viver exige candura, mas também exige ferocidade. Que o vento leve de volta todas as lamúrias, e jogue as orações próximas aos ouvidos dos anjos. Amém!

Hivton Almeida
Enviado por Hivton Almeida em 13/08/2023
Reeditado em 14/08/2023
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