SÉRGIO NÃO FOI PARA O CÉU (11)
- Você tinha família? Filhos, marido?
- Tinha sim! Meus filhos são já adultos e meu marido vivia comigo.
- O relacionamento com seu marido não era bom?
-Vivíamos,
todos os dias,
e a todo momento, em meio a uma infeliz e bizarra competição.
Eu escondia garrafas de vinho pela casa, muitas,
e ele,
as encontrava.
Ele,
fechava a casa, escondia as chaves,
e eu, saltava pelas janelas.
Ele,
bloqueava os meus cartões, pegava
o meu dinheiro,
e eu,
sempre encontra mais.
Faltava-me a lucidez,
Entreguei-me totalmente ao vício,
a dependência…
O fundo do poço?
A perda da capacidade de perceber a realidade ao meu redor…
A perda dos escrúpulos,
A fantasia que ganhava forma.
Depois do fundo do poço descobri um abismo.
A autodestruição,
A automutilação,
do corpo e do caráter.
Era a minha que parava.
Parava e ia perdendo.
A vida ia dando
espaço para a morte.
Eu estava morrendo aos poucos,
de dentro para fora,
ganhando espaço,
a cada dia,
cruelmente.
- A sua história é muito triste!
- Fale-me de você Sérgio!