SERGIO NÃO FOI PARA O CÉU (8)
Sérgio não tinha fome, não tinha sede, não tinha sono.
Não existiam os dias, as noites, as horas, o tempo…
Sérgio sentia-se envolto em seu ser.
“Não tenho nada, não tenho profissão, não tenho casa, não tenho dinheiro, não tenho poder…
Eu sou. Eu sou o que sou.”
Sem o fardo das posses, o ser fica livre para ser mais.
Sérgio não conseguia parar de pensar o quanto foi vazia a sua existência.
Como ele pode ter gasto a sua vida, os seus melhores anos na busca de posses materiais. Era muito importante o primeiro carro, a primeira casa, um carro melhor, uma casa melhor, muito dinheiro, muito poder.
Desde muito pequeno ele foi orientado a viver em função de ter um bom colégio, ter um bom diploma, ter um bom emprego, ter uma boa família e ter saúde, ter segurança…
Até a sua igreja estava ficada em seu acúmulo de dinheiro.
O consumismo inconsciente e inconsequente, o acúmulo, a desigualdade, a injustiça social, a fome.
Agora ele não tem nada.
Antes ele tinha um Deus e agora ele precisa o encontrá-lo na bagunça dentro do seu ser.
Ismael apareceu e iluminou ainda mais ao redor de Sérgio.
A névoa já não era tão densa. Perguntou a Ismael:
- O céu existe?
- Sim, é claro!
Pela primeira vez Sérgio recebeu uma resposta esperada.
- Como é o céu?
- É a plena realização do ser.
- O que fazemos no céu?
- Vivemos em plenitude.
- É monótono?
- Absolutamente não!