SERGIO NÃO FOI PARA O CÉU (5)

Na sua frente, com a água levemente turva, leitosa, havia um rio que desfilava caudaloso.

Um suave e relaxante ruído de correnteza.

Na sua frente, depois do rio, com a névoa menos densa, ele visualizava uma montanha com árvores finas e verdes. Eram vários tons de verde.

Acima das árvores haviam rochas. As rochas eram claras, provavelmente de cor bege.

E na sua frente, Sérgio, que estava a três metros do rio, se encantava com a variedade de pedras.

As pedras esculpidas pelo rio no decorrer de milênios, eram de formato arredondado.

A cada choque entre as pedras, suas arestas iam se moldando.

Por menor que seja a fratura de uma ponta da pedra, a tornava mais adequada para a passagem da água e para o movimento entre as outras pedras.

Inevitavelmente ele aceitou o raciocínio:

“Ah, as minhas arestas, quão difícil deve ter sido para os outros!

Todos fomos pedras de rio na vida anterior. As pedras mais redondas desceram com mais facilidade com as águas.

As pedras mais redondas enroscaram menos em outras pedras.

A vida é um rio, nós somos pedras pontudas.

Algumas pedras parecem mais moles, ou se deixam amolecer. Outras teimam em serem duras. Quebram as arestas dos outros mas quase nunca se deixam moldar.”

Sérgio se identificou com as pedras duras. Ele sentiu necessidade de se moldar, de se arredondar.

Agora ele acha que suas dificuldades eram muito grandes porque ele dava muita importância aos falsos valores que ele assumia durante a vida por falta de um bom discernimento.

Agora eu sou uma pedra fora do rio. As outras pedras não podem mais me moldar, água não pode mais me moldar.

Eu estou no lugar certo, entre as pedras, fora do rio.

Mas…, que rio!

O rio desapareceu para Sérgio.

Era somente uma visão.

Valdecir Bortolossi
Enviado por Valdecir Bortolossi em 17/07/2023
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