O Homem que Calculava ou
De Panelas, Conversas e Cálculos...
 
Numa conversa com amigos, certa vez, discutíamos as diversas etapas para a realização de simples atos cotidianos, como preparar arroz, por exemplo. E me dei ao trabalho de enumerá-las. Pasmamos ao constatar que eram dezenas! Desde o abrir e fechar o armário ao pegar uma panela até o final da preparação do alimento, são gestos comuns ao dia a dia que não percebemos, mas que contam como dispêndio de energia  e demonstração de destreza, pois que os fazemos com a habilidade peculiar aos que os repetem quase que diariamente.

Vejamos: abrir o armário (01), pegar uma panela (02), fechar o armário (03), colocar o recipiente sobre o fogão (04). Pegar o lavador de arroz (05), depois o pote do arroz (06), abri-lo (07), servir-se da quantidade de grãos (08), fechar o pote (09), guardá-lo (10), abrir a torneira (11), lavar os grãos (12), fechar a torneira (13), pôr o lavador para escoar a água (14). Pegar a cebola e o alho na cesta (15/16), pegar um prato e uma faca (17/18), descascar a cebola (19), fatiá-la (20), reservar (21) e, em seguida, repetir o processo com o alho (22). Abrir o armário de dispensa (23), pegar o óleo (24), abrir a garrafa (25), despejar na panela (26), fechar a garrafa (27), devolvê-la à dispensa (28), e fechar a porta (29). Voltar para o fogão (30), girar o botão do gás (31), pressionar o botão da ignição (32), pegar o prato da cebola antes reservado (33), despejar a cebola no óleo aquecido (34), pegar uma colher (35), mexer para que doure por igual (36), pegar o alho picado e repetir o processo (37). Levar os pratos da cebola e alho para a pia (38). Abrir a gaveta, ou novamente a dispensa (39), pegar o pote de sal (40), abri-lo (41), despejar no refogado (42), fechá-lo (43), e fechar a gaveta (44). Pegar o medidor de água (45), abrir a torneira do filtro (46), enchê-lo com a água necessária (47), despejando-a sobre o arroz em seguida (48). Pegar a tampa da panela (49), colocá-la sobre esta (50), girar mais uma vez o botão do fogão para reduzir a chama (51)...

Ufa! O percentual de erro nessa contagem será sempre para mais, acrescento, pois ainda existem as etapas durante e após o preparo, como lavar e guardar os recipientes e talheres usados para este fim. Se omiti algo é porque a mente cansou só de enumerar os passos para o preparo de um simples arroz, coisa que já fazemos tão automaticamente.

Da próxima vez em que for preparar essa refeição, lembre-se do trabalho que demanda. Mas eu não reclamo. Na verdade, apenas agradeço por ter panelas e arroz, e cebola, e alho e óleo, e, acima de tudo isso, ter disposição para todas as entediantes tarefas que executamos ao longo da nossa existência (e, claro, por ter o fogão... para aquecer a comida pronta que compro
😄 ).
 
É a Vida... e faz parte.

 
*

 
 
Obs.: “O Homem que Calculava” é título do romance juvenil do escritor Malba Tahan (heterônimo do professor brasileiro Júlio César de Mello e Souza), e que narra as aventuras e proezas matemáticas do calculista persa Beremiz Samir na Bagdá Medieval - Século XIII.
- Não há qualquer proeza nos cálculos desta crônica e seu título apenas brinca com a quantidade de números presentes no texto.

 
 



Imagem: Via Dreamstime (Editada)

 
Marise Castro
Enviado por Marise Castro em 07/07/2023
Código do texto: T7831613
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