A picanha e a imprensa.
Dê-me picanha, que eu gosto - é este o estribilho de trilhões de brasileiros, muitos deles da imprensa - estes, os da imprensa, sem jamais arregaçarem as mangas, tinham, todo dia, na mesa farta, picanha, toneladas de picanha.
A imprensa brasileira, hoje, é pior do que os pasquins avoengos, que traziam corpos juncados de ferimentos, fraturas, ossos esmigalhados, olhos roxos afundados na cavidade ocular com um possante soco de um brutamontes abrutalhado, o bestunto rachado ao meio por um machado, o ventre desviscerado, a língua arrancada a alicate, os olhos vazados com chave-de-fenda, e sangue a encharcar salas e cozinhas, e ruas e calçadas, e gente a esgoelar-se doentiamente, a denunciar adultérios, assassinatos, tramóias luciferinas e outras atividades comuns à indigente espécie humana.
Nos dias que ora vivemos, e nem sempre com boa-vontade, os jornais, aqueles que até há três décadas tinham a reputação de respeitáveis e que traziam no seu time de profissionais senhores veneráveis, intelectuais de primeira ordem, escritores de mão-cheia, hoje sequer servem para forrar gaiola, e tampouco para embrulhar peixe. Nenhuma serventia têm. Nenhuma. Infelizmente, não poucas pessoas dão-lhes valor imerecido, e o fazem porque eles estão a lhes ecoarem os sentimentos animalescos.