ACENO AMIGO (crônica)

Deus pinta arrebóis, Deus pinta arcos-íris, pinta a Natureza e o Universo, mas...

Deus não pinta os preconceitos. Simples assim!! Respeitar, incondicionalmente, as relações das pessoas é o maior desafio imposto pelo Universo. É maior que a imposição de amar a nós mesmos para evoluirmos completamente. Eis o desafio: aceitar as relações entre criaturas sem enxergar os seus gêneros, sem contrariar suas ideias dentro dos seus direitos, somente validar o sentimento maior; o Amor. Um enorme desafio...

Eu estava na praia diante do hotel admirando o lindo pôr do sol que passava de dourado para um vermelho-belo logo após se alaranjar. Apreciava as cores, a sinfonia da constante brisa, as formas das revoadas dos pássaros com os seus cantos. O que falar dos murmurinhos do vaivém das águas do mar chocando-se nas pedras? Uma majestosa pintura divina a me despertar o reconhecimento da pequenez humana diante da natureza.

O Sol, despedia-se clicando seus raios nas águas límpidas do mar nordestino. Pareciam pedras atiradas percorrendo à flor-d’água para, finalmente, ir ao fundo deixando borbulhas bem construídas. Os raios dourados, também, chegam às areias ao último retoque, pois logo é o luar que iria imperar com o seu prateado. O bom é que fica bonito dourado ou prateado! Com Sol ou Lua é sempre uma obra de arte.

Como é bonito o arrebol lembrando a minha terra Jundiaí em suas belas tardes, formando um quadro tendo como molduras o horizonte e o infinito. De repente, à certa distância, vinham duas moças com passos lentos, descontraídas, pisoteando a beirada da chegada das águas. Lembrei-me delas do hotel e que eram namoradas. Sabia serem amantes porque as surpreendi no corredor numa troca de beijos. Não! Não as surpreendi! Errei na minha descrição, pois a minha presença de nada as atrapalharam durante a troca de um afeto terno, longo e verdadeiro. Não ligaram, demonstrando indiferença para o que poderiam dizer da escolha que fizeram.

Com a chegada delas eu refiz na mente o quadro que observava: No centro o Sol se pondo e a Lua despontando. Elas passariam bem dentro da pintura, no centro, de mãos dadas, lindas e protegidas pela juventude. Completariam a arte que só eu via como uma pintura ímpar. E aconteceu: Sem perceberem, cumpriram o papel de modelos. Eu tinha que fazer a minha parte deixando a marca do meu pincel. Então, gritei:

— Parabéns! e elas pararam dentro do universo do meu quadro, sorridentes nos papeis que faziam sem saberem que eram participantes da obra de arte.

— Por quê? indagou uma delas sem soltar a mão da amada.

Respondi prontamente:

— Pelo amor de vocês!

Bem! ouvi os risos de ambas. A mais alta me respondeu:

— Obrigado! O senhor e a sua mulher, também, formam um lindo casal enquanto me acenavam... Somente que, ao levantarem as mãos, os movimentos deram uma singeleza ao quadro já praticamente a se desfazer, pois o Sol entregava o seu papel à linda Lua prateada. Deus pinta um arrebol e um belo arco-íris, mas jamais o preconceito. O quadro, passou a ter moldura de horizonte e céu, mar e o imaginar do meu infinito, e no centro as duas como modelos acenando e sorrindo.

Fixei a imagem. Acredito que pouco é o tempo às coisas belas, mas que é bom ser assim! A beleza é perpetuada sem o cansaço de a ver todos os dias. A beleza é um dos sentimentos preciosos que deve ser encontrada e transformada em sentimentos a cada dia. Logo, elas continuaram a caminhada deixando rastros de amor na areia com seus passos lentos e preguiçosos, marcando as presenças para sempre. Acompanhei-as até a escuridão fazê-las duas silhuetas de uma única expressão divina.

Sorri! Senti-me um homem feliz, pois pintei com o Criador um cenário tão lindo. Pena é que a minha amada nada viu por estar no quarto banhando-se e que confidenciara que usaria o meu perfume preferido.

Então, com a Lua prateada iluminando obras que se pintaram durante a noite toda, eu e a amada formamos no nosso quarto mais uma linda obra de intenso amor...

Um quadro onde éramos, agora, os modelos, moldurados de quatro paredes e de intimidades como pano de fundo. Outra obra do Amor bem representado.

Arabutã Campos
Enviado por Arabutã Campos em 10/06/2023
Código do texto: T7810052
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