Vale a pena.
Sabe aquelas quartas-feiras brabas, você desce do beliche com o pé esquerdo, sonado ainda, e leva um tombo; vai tomar um gole de café e está gelado e amargo; acende a luz do banheiro e ela queima, assim como o chuveiro, e o banho têm que ser gelado mesmo. Procura alguma coisa pra comer e só tem um pão mofado.
Sai para comprar pão e o pão acabou de acabar. Você fica 20 minutos na fila esperando o pão quente. Chega em casa, prepara seu pão e quando toma o café, ele está gelado (porquê você não esquentou antes de sair pra comprar pão?). Esquenta o café e, quando este fica quente, é o pão que está gelado. Vai assistir ao filme que você alugou ontem e, o filme (além de ser uma porcaria!) não chega ao final, pois o vídeo-cassete engole a fita. Dois gastos a mais: conserto do vídeo e multa da fita! Só para fechar a manhã, sua cachorra vomita em você e sua irmã chega toda nervosinha da escola (ah, os mistérios da adolescência!).
Você se corta preparando o almoço e morde a bochecha almoçando. Sua bicicleta está com o pneu furado (surpresa...) e você pega um ônibus, chegando ao lugar que tinha de ir com cinco minutos de atraso; mas isso não importa muito, pois você espera pelo seu amigo por duas horas, só para ele te entregar um CD, e mesmo depois dessas duas horas, ele não vem.
Você vai pra casa de outro amigo seu, para reclamar da vida, e o seu amigo (aquele que te deu o cano) está lá, jogando videogame. Sem nem perguntar, você começa a jogar, quem sabe relaxar um pouco... mas o jogo trava.
E, na primeira boa idéia do dia, você resolve ir para casa, cansado, morrendo de sono, vê seu ônibus passar, corre, faz sinal, mas mesmo assim, o motorista não pára. Enquanto você pragueja e escolhe entre cicuta, tiro na cabeça ou gilete nos pulsos, você olha para o ônibus que passa e a vê, quase um ano depois da ultima vez que a viu, acenando para você e gesticulando de dentro do ônibus, eufórica, sinais de “me liga!” e, mesmo cansado, você corre atrás do ônibus (igual um pateta, diga-se de passagem) até onde as pernas agüentam.
Você finalmente vai para casa e dorme estranhamente satisfeito, pois aquele curto minuto valeu a pena.