Caixãozinho..ou.. Olhos Cúmplices!
Caixãozinho ou..Olhos Cúmplices
Entrou..baixinho..mãos nos bolsos..cabeça baixa. Peço que se sente..senta-se coloca na mesa as mãos..torce-as..olhos cheios de lágrimas. Reparo que é limpo e vestido cidadão comum. Pergunto se posso ajudar. Diz que sim. Ofereço água..aceita. Olha-me nos olhos..encaro. Conta sua história..é de outro Estado..está desempregado e a prole é imensa..desaba a chorar..choro dorido. O filho de doze anos havia falecido..não tinha um centavo nos bolsos e precisava velar e enterrar o filho. Pergunto se quer comer algo..não..quer velar e enterrar o filho. Posso fazer algo? - Sim..ajudar para que se compre o caixãozinho do filho. Certo! Peço à Kátia que cuida das parquíssimas finanças para que veja a quantas andamos. Ele continua sentado de cabeça baixa..chorando em silêncio. Kátia retorna. Quanto temos? Kátia..isto. Ok. Senhor..eis aqui a ajuda para o caixãozinho de teu filho. Nossos olhos se cruzam..e neste olhar dentro dos olhos passo-lhe o dinheiro. Obrigado e Deus lhe pague..não repare..estou com pressa..muita coisa a fazer. Vai com Deus senhor..tudo há de se resolver. Kátia fecha os portões. - Deu todo o dinheiro? - Dei. Ficou louca? - Não. Mas não morreu filho nenhum é um golpe! - Eu sei. - Mas então se sabia por quê deu o dinheiro? Kátia..pare e pense. Depois nos falamos. Muitos anos se passaram..ainda vejo Kátia..ela até hoje não entendeu. FIM.....
Dorothy - Goiânia - Goiás
O Bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
Manuel Bandeira...