Minha mãe conversa com flores
Tenho mãe. Tenho orgulho de dizer isto. Tem 95 anos. Lúcida, conversadora, um livro de história aberto.
Não vive só, tem um gato de nome Candinho e uma cachorrinha de nome Susi.
Mora numa pequena chácara. A casa tem uma varanda que dá de frente para o Rio Paraíba do Sul. Tem abacateiro, amora e muitas outras frutas e flores, registrá-los aqui vai tornar o texto infinito.
Dia destes fui visitá-la. Nem bem cheguei me pegou pelo braço e me levou pra ver uma flor que ultrapassou o muro do vizinho e floriu pendendo as pétalas para o lado da casa dela.
"Filho, olha que linda-me disse.
Eu sentada aqui no banco e ela ali, passamos hora a prosear. E assim vamos vivendo. Ontem ela me pediu uma coisa:
" Daqui uma semana vou me soltar daqui, provavelmente um ventinho carinhoso irá me ajudar : nascer, crescer, florir e desflorir é assim a natureza.
Vou cair nesta grama macia aí do seu quintal. Por favor me conceda o privilégio de dar o meu último suspiro em suas mãos.
Nós flores não temos carinho de mãe, apenas de vento, abelhas e beija-flores."
Minha mãe com olhar sereno, moldado pelos anos, agora com sua mão direita em meu ombro esquerdo comentou, segura de si:
"Não fiquei triste não, a idade nos ensina a compreender o ciclo da vida , afinal logo também vou desflorir..."