Parece coisa de loucos. E é.
Dizem por aí e por aqui os atilados observadores da conduta humana que há, hoje, loucos de três costados em quantidade superior à que se via ontem. Se procede tal afirmação, nada posso dizer. Neca de pitibiribas entendo das fórmulas que os doutos estatísticos usaram para chegar à conclusão de que os loucos multiplicaram-se a olhos vistos. Posso declarar que eles se reproduzem à velocidade geométrica, enquanto os homens sãos à aritmética, o que vem a redundar no aumento proporcional de loucos em nossa sociedade. Um dia, quem sabe, haverá mais loucos do que sãos. Há quem diga que tal dia já chegou.
Não sei o que se passa em outros planetas; sei o que se passa em meu entorno. Persuadido de que seja eu um homem são, digo, melhor, escrevo: ultimamente tenho visto muitos loucos, doido-varridos, lelés, dodóis-da-cabeça, malucos-beleza, desparafusados, circulando por ai, e por aqui, alguns a assustar-me. Dia destes, a palestrar com meu amigo imaginário - amizade antiga, que eu estimo há quarenta e seis anos - a passear, pelo centro daqui de Pindamonhangaba, tranquilamente, pela Praça da Cascata - assim alcunhamos os do povo a Praça Monsenhor Marcondes -, encerrei a animada conversa com o meu amável interlocutor assim que à minha direita um doido-de-pedra emitiu ao meu ouvido, a ponto de ensurdecer-me, um sonoro grunhido rascante, que enfiou-se-me, pela cabeça adentro, até o meu cérebro, quase me desmiolando. É louco, o homem; e ele quase me pôs louco.
Mas não é de tal louco, e de outros loucos de igual têmpera, loucos, digamos a verdade, que, embora nos incomodem, têm a sua graça, que eu pretendo falar. Quero falar de outros loucos, loucos, estes, muito loucos, malucos de marca-maior, os loucos moderninhos, que - ao contrários dos loucos, os clássicos, com os quais já aprendemos os sãos a viver harmoniosamente - os agentes do outro mundo melhor entendem ser os salvadores da Terra. Um dos grupos de loucos - e irei neles me concentrar, e a eles conceder poucas palavras, pois não quero enlouquecer-me - formam uma seita, uma seita de... De quê?! De loucos. De loucos, sim, mas dizem que eles loucos não são. É um grupo de pessoas que, para salvar a Terra, mantêm com ela relações sexuais. Entendem os tipos que, como eu diria?! com a Terra mantendo uma relação... - carnal?! -, conjugando com a Terra o corpo, numa conjugação carnal, estão, acreditam os carinhas, a purificá-la, a removerem-lhe as imundícies que nela os humanos inserimos. Assisti... Ora, em um vídeo há uma bela donzela desnuda a se... a se... Esforço-me para não descer à vulgaridade. Entenda-me, leitor, a minha prosa tatibitate. Entenda: as reticências, em rápida sequência, têm razão de ser. A donzela, uma ninfa dos bosques, deitou-se na terra, e... e... E em outro trecho do vídeo, um homem... um homem, assim, sabe, leitor?! a montar à cavalo, sobre um tronco de não sei qual árvore, e desta a puxar os galhos e a arrancar as folhas como se estivesse a agarrar e arrancar cabelos, moveu-se, e... e... Gritou. Depois, curvou-se para... E uma grandalhona enxundiosa, elefantina, aproximou-se de uma árvore, e enlaçou-lhe sedutoramente o tronco, e... e... E uma pequena mocinha, bonitinha, reconheço, foi até uma árvore florida, lambeu-lhe as flores, e... Aí, um... Depois, apareceu uma... E... e...
Leitor, paro por aqui. Não quero despertar os seus instintos mais recônditos, animalescos, primitivos, antediluvianos.
Saiba, leitor, que o que eu vi parece coisa de loucos. E é.